‘Falar é a melhor solução’
Campanha do Setembro Amarelo deste ano foca a conversa e a escuta como quebra de tabus para ajudar …
Clarice Graupe Daronco/JMV
TIMBÓ – “Falar é a melhor solução”. Este é o lema da campanha do Setembro Amarelo deste ano. Para os realizadores desta campanha, os integrantes do Centro de Valorização da Vida (CVV), falar sem tabu sobre suicídio é uma das mais importantes formas para prevení-lo. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina, que também realizam a campanha, todos os anos são registrados cerca de 12 mil suicídios no Brasil.
Para falar sobre este assunto a redação do JMV entrevistou as psicólogas, Francielle Hartmann e Katy Bremer. As duas profissionais apontam as principais causas do suicídio, sinais para identificar um suicida, dados sobre o aumento de casos de suicídios entre idosos e jovens, como as famílias podem ajudar, o tema da campanha deste ano e muitas outras questões importantes.
JMV – Quais são as principais causas do suicídio?
Francielle e Katy – Muitas são as causas que desencadeiam o desejo do término da vida, seja por pensamentos suicidas, expressão verbal e por tentativa propriamente dita. Percebe-se que em muitas situações houve um desamparo (descaso) e até negligência do sofrimento desses pacientes, da sua rede de apoio e de apego. A avaliação do risco de suicídio é problemática tanto entre pacientes sabidamente psiquiátricos quanto à população em geral. Estima-se que mais de 70% decorrente dos portadores de transtornos de humor e de outros transtornos; o restante por intoxicação a drogas lícitas e ilícitas”; portadores de doenças crônicas e degenerativas, enfraquecimento ou rompimento dos vínculos afetivos e sociais (conjugais, familiares, amizades, trabalho), problemas financeiros, preconceitos, bullying, além da visão negativa de si, da vida e do futuro.
JMV – Existem sinais que podem ser identificados em um suicida em potencial?
Francielle e Katy – Entre os fatores de risco para o suicídio, um dos mais relevantes é a história prévia pessoal e familiar. Muitas vezes os sinais são muito sutis para serem percebidos e identificados. Se a pessoa apresenta mudanças de comportamentos, psicológicos, como a incapacidade para resolver problemas, instabilidades de humor (mais deprimidos), vive em constante estresse em casa, na escola, no trabalho, em ambientes sociais poderiam ser identificados como “alertas” aos familiares, amigos e equipe de saúde. Faz-se necessário um acompanhamento médico e psicológico para minimizar o sofrimento psíquico e emocional que leva ele a buscar esta saída para resolver questões que o afligem.
JMV – Dados da OMS mostram que os casos de suicídio são mais comuns entre idosos e tem crescido muito em jovens. O que acontece nessas idades que levam as pessoas a tirarem a própria vida?
Francielle e Katy – Com o avanço das medidas preventivas e de promoção à saúde na qualidade de vida percebe-se um aumento da longevidade humana. Com isso, muitas situações novas começaram a ser vividas, como doenças crônicas e degenerativas, envelhecimento físico e cognitivo, que sem dúvida acarretam muitas limitações e sofrimentos. Além disso, uma sequência de lutos vividos ao longo da vida, como: saída dos filhos, aposentadoria, morte do companheiro, abandono, cuidados insuficientes, a existência das doenças mentais e transtornos psiquiátricos. A falta de relações de apego seguro, através da atenção, cuidados, sentir-se pertencente ao grupo familiar e social, segurança, limitações físicas, emocionais, psicológicas e funcionais são algumas das causas da ideação suicida, desesperança e sua tentativa.
Atualmente percebe-se a importância de “prestar atenção” aos sinais na intenção suicida na avaliação de risco. Não importa mais a idade, percebe-se que todas as faixas etárias estão sujeitas a esse mal.
JMV – É possível evitar que alguém próximo de nós se mate? Como os familiares podem ajudar?
Francielle e Katy – Muitas vezes, familiares e amigos não reconhecem os sinais de que o alguém querido vai tirar a própria vida. Aliás, muitas vezes, a própria vítima não entende que precisa de ajuda. Por isso, é preciso falar sobre suicídio e discutir a depressão abertamente, não banalizá-la como algo que não existe, ou algo que demonstra fraqueza. Precisa-se desenvolver hábitos de “escutar”, cuidar, demonstrar afeto e atenção relevantes dos relacionamentos saudáveis e cuidados especializados o mais breve possível.
JMV – A campanha Setembro Amarelo tem focado na conversa como forma de evitar o suicídio. O que conversar?
Francielle e Katy – Em 2018, a campanha está baseada na ação de que falar é a melhor solução. Por isso, fale sobre suicídio. Primeiramente é necessário ter uma escuta ativa com empatia. Perguntar se a pessoa pensa em suicídio e se há ideação suicida. Em seguida, encaminhá-la e acompanhá-la no tratamento psiquiátrico e psicológico. A campanha Setembro Amarelo busca dar voz às pessoas deprimidas, construir novas redes de apoio aos envolvidos nessa problemática, enfim minimizar sempre o sofrimento das pessoas que buscam no suicídio uma alternativa para o que estão passando.