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sábado, 20 de setembro de 2025

Setembro Lilás e a conscientização sobre o Alzheimer

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Em um Brasil que hoje abriga cerca de 33 milhões de pessoas acima dos 60 anos, segundo o IBGE, falar sobre o Alzheimer é falar também sobre memória, afeto e cuidado. Neste mês, o Setembro Lilás se ergue como um convite à reflexão: uma campanha dedicada a promover a conscientização sobre a doença, seus tratamentos e a importância da rede de apoio que envolve pacientes, famílias e profissionais da saúde.


De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 55 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com algum tipo de demência, sendo que 70% dos casos estão ligados ao Alzheimer. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que 1,2 milhão de brasileiros convivem com a doença — número que deve crescer de forma expressiva nas próximas décadas. Até 2050, a projeção é de 5,7 milhões de diagnósticos no país, um aumento de 206%.


O dia 21 de setembro é reconhecido mundialmente como a data de conscientização sobre a enfermidade, lembrando que o Alzheimer não rouba apenas lembranças, mas transforma rotinas, histórias e laços. Para iluminar a importância do diagnóstico precoce e da solidariedade no enfrentamento da doença, o Jornal do Médio Vale (JMV) conversou com a médica neurologista doutora Taimara Zimath (CRM 21497/RQE 18708). Integrante do corpo clínico do Hospital e Maternidade Oase, preceptora da residência de Clínica Médica e fundadora do ITHAKA Centro Médico de Reabilitação, ela compartilhou reflexões sobre o cuidado e a esperança que devem caminhar lado a lado nessa jornada.

JMV: O que é a Doença de Alzheimer e como ela se diferencia de outros tipos de demência?

Dra. Taimara: Demência é o nome dado às doenças que comprometem o funcionamento cerebral e provocam perdas cognitivas. O Alzheimer é o tipo mais comum, responsável por 60 a 70% dos casos no mundo. Trata-se de uma condição neurológica progressiva em que os neurônios perdem a capacidade de comunicação, levando à morte celular. Isso provoca sintomas como perda de memória, dificuldades de linguagem, desorientação e até alterações de comportamento e humor.

JMV: Por que é importante termos uma data mundial e nacional dedicada à conscientização sobre a doença?

Dra. Taimara: Datas como o Setembro Lilás são essenciais porque ajudam a informar a população sobre os sinais do Alzheimer e diferenciar o envelhecimento natural dos sintomas que merecem atenção médica. Além disso, contribuem para reduzir o estigma e o preconceito, mostrando que a doença é neurológica e não uma fraqueza pessoal.

JMV: Quais são os primeiros sinais e sintomas que familiares devem observar?

Dra. Taimara: O Alzheimer começa, geralmente, com perda de memória recente: dificuldade em lembrar fatos do dia anterior, onde guardou objetos ou repetição de perguntas. Aos poucos, surgem dificuldades de linguagem, desorientação, alterações de comportamento e dependência para tarefas do dia a dia.

JMV: De que forma o diagnóstico precoce pode mudar a qualidade de vida?

Dra. Taimara: Um diagnóstico precoce permite iniciar tratamentos antes da progressão dos sintomas, retardando a evolução da doença e preservando a autonomia por mais tempo. Para a família, isso traz clareza, reduz a angústia da incerteza e possibilita um planejamento mais organizado do futuro.

JMV: Quais exames são recomendados para confirmar a suspeita de Alzheimer?

Dra. Taimara: O diagnóstico é clínico, baseado em avaliação médica e testes cognitivos, mas costuma ser complementado por exames de sangue e de imagem. Tomografia e ressonância ajudam a descartar outras doenças, e em casos selecionados, exames avançados como PET-CT ou análise do líquor identificam biomarcadores específicos da doença.

JMV: Há tratamentos eficazes para retardar a progressão da doença?

Dra. Taimara: Sim. Existem medicamentos como os anticolinesterásicos, que ajudam a manter memória e atenção, e novas terapias imunobiológicas em estudo com resultados promissores. Além disso, tratamentos não medicamentosos — como fisioterapia, terapia ocupacional, estimulação cognitiva, fonoaudiologia e atividades físicas e sociais — são fundamentais.

JMV: Qual é o papel da família e dos cuidadores no processo?

Dra. Taimara: Eles são fundamentais, pois organizam a rotina, garantem a adesão ao tratamento e criam um ambiente seguro. Além dos cuidados práticos, o suporte emocional, a paciência e o afeto ajudam a manter a autoestima e a qualidade de vida do paciente.

JMV: Quais atividades ou terapias ajudam a manter funções cognitivas por mais tempo?

Dra. Taimara: Exercícios de memória, leitura, jogos de raciocínio, atividades físicas, música, fonoaudiologia e terapia ocupacional são aliados importantes. Além disso, hábitos saudáveis — como sono adequado, alimentação equilibrada e controle de doenças crônicas — fortalecem o efeito das terapias.

JMV: O Brasil está preparado para o crescimento de casos?

Dra. Taimara: Ainda não. Embora existam políticas nacionais, há desafios como a falta de capacitação na atenção primária, desigualdade no acesso a serviços especializados e pouco suporte formal a cuidadores, que hoje assumem quase toda a carga.

JMV: Quais políticas públicas são essenciais para apoiar pacientes e famílias?

Dra. Taimara: É preciso investir em diagnóstico precoce acessível, centros multiprofissionais, capacitação de profissionais e cuidadores, programas de suporte social e psicológico, e políticas de cuidados de longa duração, como centros-dia e atendimento domiciliar. Campanhas de conscientização e pesquisa também são fundamentais.

JMV: Qual mensagem a senhora deixaria às famílias que convivem com o Alzheimer?

Dra. Taimara: Saibam que não estão sozinhos. O cuidado exige amor, paciência e força, e cada gesto, por menor que pareça, faz diferença. Buscar ajuda e dividir responsabilidades é essencial. O Alzheimer traz desafios, mas também pode fortalecer vínculos e valorizar pequenas conquistas. O amor da família é, sem dúvida, o maior remédio.

A médica encerra lembrando que o Centro de Reabilitação Neurológica Ithaka, criado em 2024, nasceu justamente para acolher famílias e oferecer suporte completo no cuidado de condições neurológicas.

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