No Brasil, 68% da população é analfabeta funcional
rofissionais da educação de Timbó comentaram a situação, apontaram motivos e sugeriram possíve …
BRUNA LALINE RAMOS/ESTAGIÁRIA/JMV
BRUNA LALINE RAMOS/ESTAGIÁRIA/JMV
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TIMBÓ – Segundo o último estudo feito pelo Indicador do Analfabetismo Funcional (INAF) em 2012, 75% dos brasileiros não sabem ler e/ou escrever. Desses, 68% são analfabetos funcionais e os outros 7% são considerados analfabetos absolutos, os quais não possuem qualquer habilidade para com as letras.
A Unesco define analfabeto funcional como toda pessoa que sabe escrever seu próprio nome, assim como lê e escreve frases simples, efetua cálculos básicos, porém é incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas, impossibilitando seu desenvolvimento pessoal e profissional. Ou seja, o analfabeto funcional não consegue extrair o sentido das palavras, colocar ideias no papel por meio da escrita, nem fazer operações matemáticas mais elaboradas.
De acordo com Nice Ewald Lenzi, diretora da escola de Ensino Infantil e Fundamental Cetisa, “infelizmente, esses índices tão altos são o reflexo de nossas políticas públicas, da falta de qualidade do ensino, do pouco tempo de aula que as crianças têm diariamente, da falta de infraestrutura de algumas instituições, do pouco incentivo dado à leitura e do despreparo de professores alfabetizadores”, afirma Nice.
Já para a professora de Língua Portuguesa nas redes municipal e particular de Timbó, Queli Cristina Bona Busarello, os números são, realmente, significativos. “O que se vê é um país que prima pela quantidade de matrículas feitas e não pela qualidade de ensino aplicado a esses estudantes. O interesse, hoje, é matricular o aluno dentro da faixa etária do Ensino Fundamental ou Médio. Assim, pode-se dizer que ‘todos’ estão na escola. Mas percebe-se, pelos números, que eles não estão aprendendo. Há, ainda, o problema da falta de estrutura escolar, falta de material, desinteresse do professor e falta de motivação do aluno”, complementa Queli.
“Apesar das políticas públicas garantirem o acesso à escola, não garantem, infelizmente, o sucesso escolar”, é o que diz a diretora da Escola Municipal Erwin Prade, Cleide Maria Uber Borth. Ainda segundo ela, para esse panorama dar sinais positivos de avanço, é preciso optar pela qualidade e não quantidade. “A qualidade começa quando os alunos são incentivados à boa leitura, atividades que trabalhem a inteligência do aluno e o pensamento lógico. É preciso desenvolver nos alunos o hábito de estudar”, afirma Cleide.
Para Queli, a Educação precisa de um investimento alto para melhorar esses dados do Inaf. “É preciso investir na boa formação de professores, na estrutura física das escolas e no material de apoio ao estudante. Vê-se o caso do período integral, que é um projeto do Governo Federal. Se não for bem estruturado, não dará certo. Escola não é depósito de aluno; é um ambiente de ensino-aprendizagem e de conhecimento científico. É preciso, com urgência, também, resgatar as famílias para que incentivem seus filhos a estudar”, diz a professora.
Segundo o professor Sergi Frederico Mengarda, atual secretário de Educação de Timbó, o analfabetismo funcional é uma questão que ultrapassa os muros da escola. “Tem muito a ver com o envolvimento da família. Desenvolver a consciência para a cidadania não é tarefa apenas da escola. Isso está relacionado com o envolvimento das pessoas em organizações e entidades que possibilitam estar inserido nas discussões e debates que levam às transformações sociais e à sua compreensão”, afirma. Mengarda ainda diz que quanto mais os pais, alunos e escola estiverem integrados e interagirem, mais se desenvolverá essa consciência social.
De acordo com uma tabela publicada pelo Inaf referente ao ano de 2011, o percentual de analfabetos funcionais caiu 13 pontos no Nordeste, 16 no Sudeste, 12 no Norte/Centro-Oeste e um ponto no Sul. Conforme explica a diretora Nice, desde o início a região Sul apresentou o menor índice de analfabetismo, por outro lado, não aumentou tanto quanto todas as demais regiões brasileiras na transição para o nível básico. “Isso nos mostra que também temos muito trabalho pela frente. Nós não estamos numa situação cômoda e privilegiada”, finaliza.