Impossível não se comover com a tragédia climática que assolou o estado do Rio Grande do Sul. Centenas de milhares de pessoas desabrigadas, mortes, destruição — um cenário de filme de terror da vida real.
A redação do Jornal do Médio Vale (JMV) entrevistou a timboense Jéssica Lenzi, que há seis meses se mudou para Porto Alegre. A seguir, você, leitor, encontrará o relato de uma jovem que trabalha de forma voluntária nos alojamentos da cidade.
Em entrevista, Jéssica conta: “Foi tudo muito rápido. A chuva começou à tarde e não parou mais. Nos noticiários e nas redes sociais, não havia nenhum comunicado sobre a chuva. Todos nós fomos pegos de surpresa. O prédio onde moro fica em um bairro um pouco elevado; já aconteceu de chover bastante e formar uma lâmina de água na rua. Mas desta vez, quando acordei, havia quase um metro de água em frente ao prédio”.
Ela continua: “Assim que tomei ciência do que estava acontecendo, rapidamente procurei me voluntariar por meio de um aplicativo da Defesa Civil. A procura por pessoas dispostas a ajudar foi tão grande que o aplicativo saiu do ar devido ao número de voluntários cadastrados, mais de 15 mil.”
Mobilização
Jéssica, formada e professora em uma escola que não foi atingida pelas águas, relata que o espaço foi utilizado pelos voluntários da própria entidade para arrecadar doações e preparar marmitas. “Outra escola particular, próxima à minha, serviu de alojamento para essas pessoas que chegavam com roupas molhadas, sem absolutamente nada, alguns só com uma sacola de documentos pessoais. Às vezes, precisávamos de 200 colchões à noite, roupas de cama, cobertas, comida. Era uma mobilização que, embora trágica, era linda de ver, todos em prol da solidariedade. A parte de alimentação fazíamos na estrutura da escola onde trabalho. Colocamos no grupo da escola quem poderia ajudar e assim iniciamos. Eram marmitas de manhã, na hora do almoço e à noite, e em cada refeição buscávamos fazer um prato diferente. No primeiro dia, fizemos macarrão com calabresa frita, que era mais fácil e também não tínhamos noção da quantidade. Por último, estávamos assando galeto. Queríamos dar o mínimo de conforto a essas pessoas que perderam tudo”, afirma Jéssica.
Abrigos
Sobre os abrigos, Jéssica relata que o número de pessoas resgatadas só aumentava e, cada vez mais, espaços eram abertos para alojamentos. “Eu pegava meu carro e ia a esses locais, verificava qual era a principal demanda naquele momento; às vezes era produto de higiene, então arrecadava dinheiro e ia ao mercado comprar o que fosse necessário.”
Questionada sobre o cenário que encontrava nos abrigos, Jéssica respirou fundo e disse: “As pessoas não estavam acreditando, assim como nós. Elas simplesmente chegavam e ficavam lá, fora de suas casas, dormindo em um colchão que não era o seu, usando uma roupa que não era a sua. Alguns abrigos eram lugares onde as pessoas faziam amizades; em outros, famílias inteiras estavam reunidas. Uma situação que me comoveu bastante foi de uma senhora de aproximadamente 90 anos, sentada em um colchão, olhando desolada para a parede. O que me conforta é que, nos lugares que visitei e onde entreguei doações e alimentos, essas pessoas estavam bem assistidas, com profissionais da área da Saúde dando todo o suporte necessário”.
Doações não podem parar
É importante lembrar que não foi uma cidade ou um bairro atingido pelas chuvas, mas quase todo o estado. Conforme o Governo do Rio Grande do Sul, 2,3 milhões de gaúchos de 471 municípios já foram afetados até agora pela tragédia climática. Há 581 mil pessoas desalojadas e quase 47 mil em abrigos.
Além dos números impactantes, Jéssica relata que ainda há pessoas que não receberam nenhum tipo de doação. Ou seja, por mais que pareça grande o número de doações de roupas, alimentos, produtos de limpeza e higiene, grande também é o número de pessoas impactadas por essa tragédia climática. Por isso, é importante continuar ajudando.
Procure em seu município um órgão de confiança que esteja realizando uma campanha séria e continue ajudando. O Rio Grande do Sul continua precisando de ajuda.
A entrevista completa com Jéssica Lenzi pode ser assistida no canal do YouTube do Jornal do Médio Vale.