“Com a rotina cada vez mais agitada e os espaços urbanos mais compactos, muitos tutores compartilham apartamentos e casas menores com seus pets, principalmente cães e gatos. Em muitos casos, os animais passam longas horas sozinhos, com pouco ou nenhum estímulo, o que pode gerar quadros de estresse e ansiedade.” A médica veterinária Anna Carolina Cé (CRMV SC 14051), que atua em uma clínica em Timbó, alerta para essa realidade.
Em entrevista, a profissional destaca que, nos cães, o estresse e a ansiedade podem se manifestar por meio de comportamentos destrutivos (roer objetos), alterações nos hábitos de higiene (urinar em locais incomuns) e até quadros clínicos patológicos, como sobrepeso ou doenças ligadas ao sedentarismo. Já nos gatos, a falta de estímulo e o estresse podem contribuir para problemas urinários. A ausência de ambientes seguros e estimulantes, onde o felino possa expressar seu comportamento natural, são fatores que condicionam a ansiedade, a automutilação e outros problemas comportamentais.
Segundo Anna Carolina, “uma das principais estratégias para melhorar a qualidade de vida dos cães é o passeio diário. Mas não basta apenas sair de casa; o ideal é que o passeio seja tranquilo, com tempo para o cão farejar e explorar. O ato de farejar, para eles, vai além da curiosidade: é uma forma de comunicação e interação social. Mesmo que a caminhada não seja longa, se for rica em estímulos, pode cansar o animal mentalmente até mais do que um exercício físico, reduzindo significativamente o estresse. Respeite as pausas do animal, pois é nesse momento que o cão está ‘coletando’ informações de outros cães e pessoas, contribuindo para uma melhor interação com outros animais e reduzindo a ansiedade, visto que farejar é um comportamento natural da espécie”.
A veterinária observa que, quando não é possível realizar o passeio, uma alternativa é incluir brincadeiras na rotina, estimulando o animal a utilizar sua inteligência e a exercer comportamentos naturais. O uso de brinquedos interativos ou elementos de enriquecimento ambiental, como o “tapete de fuçar” (que estimula o olfato e a cognição ao esconder petiscos ou ração), pode manter o cão mentalmente ativo. A diferença entre um “brinquedo” e o “enriquecimento ambiental” é que o último tem um objetivo mais amplo: estimular os sentidos, a inteligência, a alimentação e o comportamento da espécie. Uma simples bolinha, por si só, não promove um grande gasto de energia mental, a não ser que o tutor participe ativamente da brincadeira. Brinquedos são interessantes, mas tornam-se ainda mais agradáveis e funcionais quando combinados com objetivos e desafios, considerando que os pilares do enriquecimento ambiental são estímulos sensoriais, cognitivos, alimentares, físicos e sociais.
De acordo com a profissional, para quem não consegue manter uma rotina diária de passeios e brincadeiras, creches e passeadores podem ser alternativas válidas. Mesmo que o animal frequente esses espaços apenas uma ou duas vezes por semana, a diferença na saúde e no comportamento será notável. “No caso dos gatos, o enriquecimento ambiental é igualmente importante. É fundamental mantê-los em apartamentos ou casas teladas, pois essa é a alternativa mais segura, evitando atropelamentos, brigas e o risco de contrair doenças virais”.
Como predadores por natureza, Anna Carolina comenta que “os gatos precisam expressar seus instintos, explorar o território, descansar em locais seguros, manter a higiene e afiar suas unhas. Além de areia adequada e caixas higiênicas amplas, é recomendável oferecer fontes de água (que estimulam a ingestão hídrica), sachês diários (benéficos para o trato urinário) e brinquedos que incentivem o movimento e a inteligência. Gatos adoram altura. Por isso, prateleiras em diferentes níveis, camas suspensas e espaços “gatificados” proporcionam segurança e bem-estar, permitindo que eles observem o ambiente de locais mais altos. Brinquedos como varinhas, arranhadores e comedouros interativos (com diferentes níveis de dificuldade) são ótimos para estimular a caça, a cognição e a independência”.
Em alguns casos, destaca a profissional, “mesmo com esses cuidados, o animal pode apresentar ansiedade patológica. Quando o estresse se manifesta de forma clínica, é importante procurar orientação veterinária. Em determinadas situações, podem ser indicadas terapias com calmantes naturais ou até antidepressivos, sempre após uma avaliação individualizada”.
Anna Carolina afirma que “cada animal é único. A espécie, a rotina, o histórico e até questões físicas, como doenças articulares, influenciam diretamente no manejo necessário. Animais com essas condições, por exemplo, podem precisar de comedouros elevados, rotinas com baixo impacto e passeios adaptados. Proporcionar bem-estar físico e mental aos pets vai além de oferecer abrigo e alimentação. É preciso considerar seu comportamento natural e suas necessidades específicas, mesmo dentro de casa ou em um apartamento”.