A discussão sobre modelos de trabalho mais eficientes e saudáveis ganha cada vez mais destaque no mundo corporativo. Uma das propostas mais promissoras nesse cenário é a redução da jornada de trabalho, seja por meio de menos horas diárias ou pela adoção de uma semana com menos dias úteis. A prática, já testada em diversos países, começa a ganhar força também no Brasil.
Em entrevista, o empresário e palestrante Felipe Floriani, com atuação voltada ao desenvolvimento humano e à performance organizacional, destaca que o novo olhar para a produtividade passa, inevitavelmente, pela busca de equilíbrio. “Trabalhar menos horas não significa produzir menos, desde que haja um alinhamento estratégico entre processos, metas e cultura organizacional. O foco precisa sair da quantidade de horas e ir para a qualidade das entregas”, afirma.
Segundo Floriani, “um exemplo robusto vem do Reino Unido, onde o maior piloto mundial de semana mais curta — realizado entre junho e dezembro de 2022, com 61 empresas e cerca de 2.900 funcionários — revelou impactos relevantes. Após o período de testes, 92% das empresas decidiram manter o modelo, e 51% o tornaram permanente. Houve uma queda de 71% nos casos de burnout, 39% de redução no estresse, além de 65% menos ausências no trabalho. E o mais surpreendente: as receitas das empresas cresceram, em média, 1,4%, chegando a até 35% em alguns casos. O turnover também caiu 57%.”
No Brasil, observa o empresário, “a iniciativa ‘4 Day Week Brazil’ já apresenta resultados animadores. Com 21 empresas participantes e cerca de 280 colaboradores, os dados mostram que 87% dos profissionais sentiram mais energia para realizar tarefas, 60% perceberam maior engajamento, e mais da metade melhorou a execução de projetos e o cumprimento de prazos. O estresse, por sua vez, caiu para 62,7% dos participantes.”
Conforme Floriani, a implementação bem-sucedida passa por ações práticas e conscientes. “É preciso repensar reuniões, cortar excessos, definir metas claras, adotar automação e priorizar entregas. Isso exige um movimento de dentro para fora nas empresas. O papel da liderança é essencial nessa transição”, reforça.
Apesar das evidências positivas, o modelo ainda enfrenta desafios, especialmente em setores com operação contínua, como indústria, varejo e saúde. No entanto, soluções híbridas — com dias flexíveis, escalas alternadas e automação parcial — já vêm sendo testadas com sucesso em solo nacional.
Para Floriani, o momento exige coragem e visão de futuro. “Estamos diante de uma mudança cultural. A pergunta não é mais se vamos adotar jornadas mais equilibradas, mas quando e como. O futuro do trabalho é centrado no bem-estar, na produtividade consciente e no valor do tempo. É hora de preparar pessoas e empresas para esse novo capítulo”, conclui.