A vida de José Reinoldo Rosenbrock é uma narrativa feita de coragem, memória e paixão. Aos 86 anos, sua voz firme e olhar lúcido carregam as marcas de quem atravessou décadas com um único propósito: comunicar. Em quase sete décadas de profissão, sua trajetória entrelaça o rádio, a televisão e os jornais, deixando uma herança que vai muito além da notícia é história viva.
Nascido na conhecida Casa do Morro, em Brusque, cresceu cercado pela rotina de uma cidade em transformação. No Jardim de Infância do Colégio Santo Antônio, sob a orientação das irmãs Ludgéria e Walquíria, descobriu o encanto das primeiras letras e o valor da disciplina. A fé também foi alicerce de sua formação: todas as manhãs, os alunos seguiam para a missa antes das aulas, em um ritual que unia devoção, hinos e bandeira hasteada com respeito.
Das lembranças da infância, Rosenbrock guarda as viagens com o pai, pedreiro de ofício, que erguia igrejas e casas em diversas cidades. Nessas andanças, aprendeu cedo o sentido da responsabilidade, ainda menino, era ele quem buscava os peixes na praia para alimentar os trabalhadores. A vida já lhe ensinava que o esforço e o compromisso são os verdadeiros instrumentos da construção humana.
O despertar do jornalismo
Nos anos 1950, as páginas ilustradas da revista O Cruzeiro e as reportagens ousadas de David Nasser despertaram nele a vocação jornalística. Fascinado pelas narrativas da Expedição Roncador-Xingu, decidiu que seria repórter. Antes, empunhou a colher de pedreiro em Brusque e São Paulo até que o irmão Nelson lhe abriu as portas do rádio.
Na Rádio Clube de Gaspar e depois na Rádio Tuba, em Tubarão, iniciou uma trajetória marcada pela inovação. Trouxe boletins gravados de São Paulo, Rio, Porto Alegre, Brasília e até da Flórida, revolucionando o modo de fazer jornalismo no interior catarinense. Seu exemplo logo inspirou outras emissoras.
Com o surgimento da televisão em Santa Catarina, Rosenbrock mergulhou em um novo universo de desafios. Nos primórdios da TV Coligadas, as reportagens eram feitas com vetos portáteis que constantemente apresentavam falhas, ou com filmadoras que precisavam ser reveladas antes da exibição. As máquinas sonoras, ainda rudimentares, não captavam a voz dos repórteres, o som, muitas vezes, era apenas imaginado. Em Blumenau, por falta de imagens vindas de outros centros, uma equipe permanecia em São Paulo gravando capítulos de novelas todos os dias e enviando-os de avião para exibição.
Mais tarde, a instalação de um ramal da Embratel entre Curitiba, Joinville, Blumenau e Florianópolis transformou a rotina técnica. Um cabo coaxial subterrâneo, ainda existente, corre paralelo à Rua Araguaia e à Rua Getúlio Vargas, testemunho de uma era em que a comunicação era literalmente construída no solo.
Rosenbrock também participou das iniciativas para levar imagens a todo o estado. A TV Coligadas montava repetidoras artesanais que transmitiam o sinal de Blumenau até o Morro do Cachorro, depois ao Morro do Formil, e dali seguia em cadeia até o interior, alcançando o Planalto e a Serra. Para que o programa Fantástico chegasse às telas catarinenses, era necessária uma verdadeira operação de guerra: técnicos captavam o sinal em Joinville, retransmitiam a Blumenau e, de lá, distribuíam a outras cidades — um feito que parecia mágico aos olhos do público da época.
Antes da Coligadas, parte dos catarinenses, especialmente em Joinville, Blumenau e Jaraguá — recebia imagens de Curitiba, enquanto o sul do estado via as transmissões de Porto Alegre. Foi nesse contexto que surgiram os primeiros telejornais locais: o Telejornal Hering, às 19h, e o Repórter Garcia, às 21h. Sem teleprompter, os apresentadores decoravam as notícias ou liam diretamente do papel. “Ou se fixava na câmera, ou se confiava na memória”, lembra ele, citando nomes como Charles Weber e Carlos Braga Müller, pioneiros que ajudaram a construir o telejornalismo catarinense.
Rosenbrock, inquieto por natureza, não se contentava com o básico. Como freelancer da Tupi, cobriu a independência de países africanos: Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, em uma época em que atravessar oceanos significava enfrentar o desconhecido. No Brasil, viveu de perto tragédias e mobilizações, como a enchente de 1974 em Tubarão e as grandes cheias do Vale do Itajaí nas décadas seguintes.
Na RBS, assumiu papel estratégico: coordenou o jornalismo estadual e modernizou a apuração eleitoral, contratando agências para divulgar resultados em tempo recorde, antes mesmo da Justiça Eleitoral. Mesmo com convites para atuar em grandes emissoras nacionais, escolheu permanecer em Santa Catarina, fiel às suas raízes e ao compromisso com a imprensa regional. Foi pioneiro no sistema de Emissoras Coligadas, colaborou na fundação do Jornal de Santa Catarina e ajudou a consolidar a primeira rede de diários do estado.
Vida pessoal e legado
Entre coberturas e viagens, a vida pessoal seguiu seu curso de sacrifícios e recompensas. “Esposa de radialista era considerada viúva de rádio vivo”, brinca, recordando o quanto a profissão exigia entrega total. Ainda assim, manteve intactos o gosto pela leitura e a curiosidade de quem nunca parou de aprender.
Com 67 anos de carreira, defende um princípio inegociável: “O jornalista noticia o que acontece. Não deve ter partido político. Muitos confundem o mensageiro com a mensagem, mas comigo isso nunca aconteceu”.
Hoje, Rosenbrock continua atuando na Rádio 92.7 FM, em Timbó, mas já pensa em dedicar-se ao lazer, um tempo que por muitos anos lhe foi escasso. Reconhece no Jornal do Médio Vale e nos colegas da imprensa regional a força de resistência e de renovação de um ofício que, mesmo diante da tecnologia, permanece essencial.
Com humildade e serenidade, encerra a conversa reafirmando sua essência: o jornalismo não foi apenas profissão, foi destino. E sua trajetória prova que, quando guiada pela ética e pela paixão, a palavra se torna eterna, ecoando como memória viva de um tempo, de uma gente e de uma missão.