No Natal, a casa se enche de risadas, aromas e abraços. Entre passos apressados e mesas postas, alguém abana o rabo aos nossos pés ou se acomoda silenciosamente no sofá, ronronando satisfeito por fazer parte daquele momento. Cada vez mais, os animais de estimação ocupam esse lugar de pertencimento: não são visitantes, são família.
O período natalino é marcado por encontros, festas e refeições especiais, mas também exige atenção redobrada com quem divide o lar conosco. Em entrevista à redação do Jornal do Médio Vale (JMV), a médica veterinária Anna Carolina Cé (CRMV-SC 14051), que atua em uma clínica em Timbó, destaca que a humanização dos pets é uma tendência positiva, desde que venha acompanhada de responsabilidade, respeito e cuidado consciente.
Entre os principais pontos de atenção está a alimentação. Em épocas de celebração, a comida ganha protagonismo, mas nem tudo o que vai à mesa pode ser oferecido aos animais. Alimentos comuns na ceia de Natal, como uvas e uvas-passas presentes em panetones e farofas, cebola — mesmo retirada da carne —, chocolate, nozes e castanhas, são tóxicos para cães e gatos. Ossos cozidos também representam risco, pois podem se fragmentar e causar perfurações internas. Já carnes muito gordurosas podem desencadear intoxicações e quadros de pancreatite, especialmente em animais mais sensíveis.
Responsabilidade nas festas de fim de ano
Outro cuidado essencial envolve os fogos de artifício e os ruídos intensos típicos dessa época. Muitos pets sofrem com estresse, medo e crises de ansiedade, principalmente aqueles com predisposição a convulsões ou que fazem uso de medicação contínua. Criar um ambiente mais silencioso, manter portas e janelas fechadas e garantir a presença de alguém de confiança são atitudes simples que fazem grande diferença. Enquanto a festa acontece do lado de fora, dentro de casa o que se constrói é acolhimento e segurança.
As decorações natalinas também merecem atenção. Fios elétricos, enfeites pequenos e objetos brilhantes podem atrair animais curiosos, especialmente aqueles que costumam roer ou ingerir corpos estranhos, aumentando o risco de acidentes.
O Natal é, ainda, tempo de presentes — e aqui cabe uma reflexão importante. Presentear com um animal exige mais do que empolgação momentânea. A convivência com pets é extremamente positiva para crianças, contribuindo para o desenvolvimento da empatia, do senso de responsabilidade e do carinho. No entanto, um animal não é um presente passageiro. Ele exige cuidados veterinários, alimentação adequada, tempo, atenção e compromisso por muitos anos. Antes de tomar essa decisão, é fundamental que toda a família esteja alinhada quanto à rotina, às viagens e à responsabilidade a longo prazo.
Falando em viagens, o alerta é claro: animais não devem ser deixados presos por longos períodos, nem em locais quentes ou sem ventilação, como carros ou áreas externas expostas ao sol. O calor excessivo pode causar desidratação, estresse e quadros graves de hipertermia. Planejar com antecedência onde e como o pet ficará é parte essencial do cuidado.
Dentro desse contexto, a humanização dos pets representa o desejo genuíno de incluí-los na família, oferecendo carinho e conforto. Isso é positivo quando respeita as necessidades e características de cada espécie. Existe uma linha tênue entre cuidar e exagerar. Roupas inadequadas para o calor, acessórios desconfortáveis ou práticas que comprometem o bem-estar podem causar mais prejuízos do que benefícios. Cada animal é único, e respeitar sua individualidade também é uma forma de amor.
Os pets aquecem nossos corações, despertam empatia e revelam o melhor de nós. São seres que dependem inteiramente dos humanos para viver bem. Por isso, mais do que incluí-los nas celebrações, o maior presente que podemos oferecer é cuidado consciente, respeito e amor — no Natal e ao longo de todo o ano. E, como imprevistos podem acontecer, é sempre importante ter à mão o contato de clínicas ou serviços de pronto atendimento veterinário.
O verdadeiro espírito do Natal também se mede pela forma como cuidamos de quem não pode pedir ajuda. Que neste fim de ano, o carinho que transborda na casa também alcance aqueles que caminham, correm ou dormem bem perto de nós.





