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domingo, 1 de dezembro de 2024

Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra

Data:

Em 20 de novembro de 2024, o Brasil celebra pela primeira vez o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra como feriado, em homenagem a Zumbi dos Palmares e à luta pela liberdade e igualdade dos negros. Este dia também reforça o compromisso de combate ao racismo e às desigualdades, além de destacar a cultura afro-brasileira.

Para discutir a importância da data, a redação do Jornal do Médio Vale (JMV) entrevistou Sambeleleny Chicupo Vapor e Juliana Santos Cleto, cujas trajetórias refletem determinações e conquistas.

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Sambeleleny Chicupo Vapor questiona o real sentido da data: “Para mim, o Dia da Consciência Negra levanta algumas dúvidas. O dia é para que eu, como negra, tome consciência, ou para que pessoas não negras reflitam sobre meu cor? Às vezes, sinto que muitos agem como se ‘me devessem’ algo, o que considero pouco produtivo. Reconheço os horrores da escravidão e as desigualdades que persistem, mas não acredito que apenas um dia resolva esses problemas. As mídias e organizações muitas vezes utilizam dados de forma pontual, voltando à exclusão no restante do ano. Prefiro contribuir para a sociedade de forma contínua, todos os dias, e não apenas no dia 20 de novembro.”

Fotos/Divulgação

Juliana Santos Cleto, por sua vez, destaca a importância da reflexão e do resgate histórico: “O Dia da Consciência Negra é um momento de consideração nas lutas e conquistas do povo negro, além de resgatar uma história de resistência muitas vezes apagada. É um dia para lembrar de onde viemos, honrar os que lutaram antes de nós e reforçar nosso compromisso com um futuro mais justo.”

Sambeleleny defende que a igualdade racial começa pela Educação: “Sempre estudei em escolas públicas e fui uma boa aluna. Falo inglês fluentemente, espanhol básico e estudo alemão há dois anos. Aos 28 anos, decidiu prestar vestibular para Geologia na USP, 10 anos após terminar o Ensino Médio. Apesar de não ter passado na segunda fase, considero a experiência avançada, pois mostrou como a deficiência na educação básica acaba afetando as oportunidades. Por isso, acredito que o foco deve ser na melhoria do ensino público, para que todos, independentemente da cor, possam competir de forma justa e alcançar suas metas sem depender de cotas ou paternalismos”.

Juliana relata os desafios de ser a única mulher negra em espaços majoritariamente brancos: “Cresci em uma comunidade branca e, ao longo da minha carreira como jornalista, segui sendo a única negra em reuniões e eventos. Aprendi a usar minha voz para abrir caminhos para outros negros. Ocupando espaços, percebi que resistência também é transformação. Em Timbó, vivemos em uma bolha onde muitos acreditam que já avançamos muito, mas a realidade é outra. A cada 23 minutos, um jovem negro é morto no Brasil, e a chance de um jovem negro ser assassinado é 2,5 vezes maior que a de um jovem branco. Isso é normal? Ainda há muito a ser feito, especialmente em igualdade de oportunidades”.

JMV – Quais aspectos da cultura negra você gostaria de ver mais valorizados?

Sambeleleny: Gostaria que a história africana fosse ensinada de forma independente nas escolas, não como um complemento à história europeia. A África tem momentos históricos valiosos que precisam ser mais valorizados.

Juliana: O reconhecimento da cultura negra deve incluir o fortalecimento do empreendedorismo e liderança negras. A resiliência e criatividade da comunidade negra moldam líderes e inovações, como o modelo de liderança comunitária enraizado na cultura afro-brasileira, que poderia inspirar o mundo corporativo. Setores como moda, gastronomia, música e artes, que refletem nossa identidade, precisam de mais investimento e divulgação.

Sobre lutas e conquistas

JMV – Quais desafios você vê na luta contra o racismo hoje?

Sambeleleny: Superar a ideia de “negros versus brancos”. As pessoas negras podem viver plenamente seus propósitos, sem se limitarem a rótulos ou lutas impostas. A verdadeira igualdade virá quando formos vistos como indivíduos, e não representarmos de uma cor.

Juliana: O maior desafio é o racismo estrutural, apresentado nas políticas, educação, mercado de trabalho e acesso à justiça. O combate à violência contra os jovens negros é urgente.

JMV – Você acredita que o movimento negro é avançado no Brasil?

Sambeleleny: Sim, mas ainda há quem prefira promover divisões. Acredito que minha contribuição deve ser pelo exemplo e convivência harmônica, não pelo confronto.

Juliana: O movimento tem avançado, com mais acesso à educação superior por meio de políticas afirmativas e maior presença de lideranças negras em diversas áreas. Mas ainda há resistência e uma longa jornada pela frente.

JMV – Que tipo de apoio ou ações práticas ajudariam mais na luta pela igualdade racial?

Sambeleleny: Viva e faça sua parte. Se alguém for racista, o problema é dessa pessoa, não seu. Continue trabalhando e deixando um legado positivo. Não precisamos de rótulos para conquistar nosso espaço.

Juliana: Investir em educação antirracista, fortalecer políticas públicas de inclusão e criar espaços de visibilidade e oportunidades para pessoas negras são fundamentais. Precisamos de mais aliados comprometidos, tanto no âmbito pessoal quanto no institucional. O dia da Consciência Negra é todos os dias.

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