O governo do presidente Donald Trump anunciou, na última quarta-feira, dia 9, que aplicará tarifas alfandegárias de 50% sobre importações provenientes do Brasil, o que causou um tremor nos mercados domésticos, com forte desvalorização da B3 e disparada do dólar em relação ao real. A repercussão das medidas, marcadas para entrar em vigor em agosto, terá impacto para muitas empresas de Santa Catarina e, em especial, no Vale do Itajaí. O agronegócio brasileiro também será atingido, principalmente os exportadores de carne em geral.
O presidente da Fiesc, Mário Cesar de Aguiar, divulgou seu parecer sobre as medidas e manifestou sua preocupação com os reflexos para muitas empresas catarinenses que exportam para os EUA. Aguiar afirmou que o aumento das tarifas tem reflexos econômicos, por encarecer os produtos brasileiros, dificultando a competitividade do Brasil. Ele analisa a decisão sob três aspectos:
- Não há necessidade de aumentar as tarifas, pois os EUA são superavitários na balança comercial com o Brasil há vários anos;
- O Brasil é um país soberano e tem autonomia sobre sua política interna, mesmo que esta não esteja de acordo com o pensamento americano;
- O Brasil também precisa refletir sobre seus posicionamentos internacionais, que frequentemente demonstram desalinhamento com as posições dos EUA.
Os reflexos na atividade econômica brasileira ainda estão em estudo, mas pelo menos 10 mil empresas brasileiras exportam para os EUA. Em 2024, Santa Catarina exportou US$ 1,74 bilhão para os EUA, principalmente produtos manufaturados, como produtos de madeira, motores elétricos, partes de motores e cerâmica. Em nível nacional, o comércio exterior entre os dois países foi benéfico aos EUA, gerando um superavit comercial de US$ 256 bilhões na última década.
A Fiesc, assim como a CNI – Confederação Nacional da Indústria, avalia que o governo brasileiro deve apelar à diplomacia e negociar a revisão das tarifas. Até recentemente, o Brasil aplicava uma taxa de 2,7% sobre as importações americanas, percentual bem abaixo dos 11,2% autorizados pela Organização Mundial do Comércio. Os EUA também aplicam uma tarifa de 2,5% sobre as exportações brasileiras.
Carta a Lula
O presidente Donald Trump enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, comunicando a aplicação das tarifas e relatando os motivos da decisão. Entre as justificativas do presidente americano estão a questão das ações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, as medidas protecionistas contra as big techs e o fechamento da economia brasileira, considerada uma das mais restritas do mundo. Trump deixou espaço para negociações.
Da parte do Brasil, o presidente Lula convocou o embaixador americano, em Brasília, e fez um gesto simbólico ao devolver a carta de Trump. Lula também realizou uma reunião de emergência com seus principais ministros, entre os quais o vice-presidente Geraldo Alckmin – ministro da Indústria e Comércio; Mauro Vieira – Relações Exteriores; e Fernando Haddad – Fazenda. O Brasil deve anunciar medidas de reciprocidade, mas ainda não houve um anúncio oficial.