“A Inteligência Artificial (IA) está cada vez mais presente na vida das pessoas. Muitas vezes sem perceber, em uma consulta médica, em um exame mais detalhado sobre alguma patologia, as IAs estão presentes para auxiliar a percepção humana. Não apenas na medicina, mas também em muitas outras áreas do conhecimento, as IAs estão provocando uma verdadeira revolução. Podemos, neste momento, e de forma simplificada, definir as IAs como a capacidade que as máquinas têm de reproduzir competências semelhantes às humanas, no que se refere ao raciocínio, à aprendizagem, ao planejamento e à criatividade.” As colocações são do mestre em Educação pela Furb, doutor em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí e pós-doutor pela FURB, professor Juliano Bona.
Em entrevista à redação do Jornal do Médio Vale (JMV), o especialista destaca que “além das mais diferentes áreas impactadas diretamente pelas IAs, temos a Educação. Adianto dizendo que, neste momento, temos mais perguntas do que respostas sobre esse impacto. Sabemos que estamos diante de uma revolução que atinge diferentes níveis e apresenta grandes desafios para toda a comunidade educacional”.
Segundo Bona, “falando dos aspectos positivos, podemos salientar que a curva de aprendizagem pode ser reduzida. Assuntos que demandam um tempo maior para análise e entendimento podem ser trabalhados com mais rapidez e aprofundamento. As IAs têm como uma de suas características a capacidade de processar uma grande quantidade de dados, o que facilita a construção de conceitos e, em muitos casos, como no campo da estatística, aumenta a percepção da realidade em função dessas análises”.
O educador observa que as IAs podem, se bem trabalhadas nas escolas, provocar uma verdadeira revolução na velocidade e na capacidade dos estudantes de aprender e compartilhar conhecimento. “Nessa direção, estamos diante de uma ferramenta pedagógica que apresenta um grande potencial de complemento e de aumento da complexidade acadêmica dos nossos estudantes. O que podemos salientar é que os desafios apresentados passam necessariamente pelo cuidado de não transformarmos as práticas pedagógicas, o fazer das atividades desenvolvidas pelos estudantes nas escolas, em meros processos de comandos atribuídos às IAs. Não podemos transformar nossos estudantes em dependentes exclusivos de respostas direcionadas pelas inteligências artificiais”, completa.
Bona comenta que os estímulos relacionados à criatividade e à construção de conceitos das mais diferentes áreas não podem ser suplantados pela simples relação de perguntas feitas pelos estudantes as IAs. “Elas são ferramentas dedicadas a potencializar nossa capacidade intelectual; elas não podem, pelo contrário, reduzir a aprendizagem a uma relação sem reflexão, feita de perguntas atribuídas às IAs e respostas disponibilizadas por elas. Nas escolas, sabemos das dificuldades de nos mantermos vigilantes a esse processo. A princípio, temos que repensar as práticas pedagógicas – comandos de atividades simplistas terão que ser reavaliados, e a orientação presencial dos professores nunca teve uma importância tão grande na educação dos estudantes”.
Para o educador as famílias também têm um papel importante na construção ética de seus filhos com relação ao uso das tecnologias. “A IA passa necessariamente pela construção coletiva de seu bom uso, de uma ferramenta que potencialize a aprendizagem dos estudantes. E essa construção, por sua vez, passa pela família, pelas escolas e por todos que ali trabalham. Nos próximos anos, a educação necessariamente terá que se debruçar sobre o tema das IAs. Não temos todas as respostas, é fato, porém sabemos o que não queremos: transformar nossos estudantes em meros dependentes das IAs, anulando assim nossa capacidade criativa de nos relacionarmos com o mundo e tudo o que isso representa”, conclui.