A 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Indaial iniciou a construção de um projeto que pretende enfrentar um dos desafios mais persistentes da rede local de ensino: a evasão escolar de adolescentes que ingressam no mercado de trabalho. A iniciativa, registrada no Procedimento Administrativo n. 09.2025.00008977-0, propõe uma articulação inédita entre Município, indústria e comércio, com o objetivo de criar condições reais para que jovens trabalhadores se mantenham estudando.
A proposta surgiu diante do diagnóstico de que muitos alunos do ensino fundamental e médio deixam a escola devido à necessidade de complementar a renda familiar por meio de atividades, realidade relatada com frequência às unidades educacionais do município. O projeto busca inverter esse cenário ao envolver diretamente o setor produtivo em ações práticas de incentivo à continuidade dos estudos.
O MPSC já realizou uma reunião de alinhamento com representantes da Secretaria Municipal de Educação, da Coordenadoria Regional de Educação (CRE Timbó) e da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). O encontro, conforme registrado no termo oficial do procedimento marcou o primeiro movimento coordenado de aproximação entre o setor público e a iniciativa privada em torno da permanência escolar dos adolescentes.
A reunião também evidenciou consenso entre os presentes sobre a necessidade de unir frentes. Representantes da rede estadual e municipal relataram que a evasão relacionada ao trabalho é um dos fatores mais recorrentes nos registros internos, especialmente nos anos finais do ensino fundamental. Já a CDL demonstrou disposição em aproximar o empresariado local do debate, reconhecendo que a formação dos adolescentes impacta diretamente na mão de obra disponível e no desenvolvimento econômico do município.
Articulação e próximos passos
A ideia central é estabelecer mecanismos de estímulo para que empresas valorizem e priorizem o vínculo escolar de adolescentes empregados ou aprendizes, evitando jornadas que prejudiquem os estudos e reconheçam o desempenho escolar como um critério de desenvolvimento dentro da empresa.
De acordo com a Promotora de Justiça Patrícia Castellem Strebe, que conduz o procedimento, o papel do Ministério Público é justamente articular as instituições e provocar soluções que beneficiem toda a comunidade.
“A evasão escolar não se resolve apenas dentro da sala de aula. Quando o adolescente precisa trabalhar para complementar a renda da família, a escola deixa de ser prioridade. Por isso, estamos reunindo o poder público, as empresas e o comércio para construir um modelo integrado, no qual estudar seja também um compromisso valorizado no ambiente profissional. A permanência do jovem na escola é uma proteção social e um investimento para toda a cidade”, afirma.
O projeto, ainda em fase de estruturação, seguirá com novas etapas ao longo das próximas semanas, incluindo a definição de critérios objetivos para adesão das empresas e elaboração de protocolos de acompanhamento dos adolescentes participantes. A expectativa é que a proposta se transforme em um programa permanente de cooperação entre o setor público e privado, com impacto direto na redução da evasão escolar e no fortalecimento das redes de proteção social de Indaial.
Situação da permanência escolar em Indaial
Embora o município não tenha, até o momento, um dado público atualizado de evasão escolar, outros indicadores ajudam a dimensionar o cenário atual. Segundo o painel de indicadores do QEdu, Indaial apresenta taxa de 5,9% de distorção idade-série, que representa a proporção de alunos com defasagem de dois anos ou mais — um sinal de alerta frequentemente relacionado ao risco de abandono escolar.




