“Estou no Maracanã. Meus olhos não podem ver, mas meu coração pode sentir a emoção de estar aqui”. Essas palavras constaram no cartaz que Marcos Felipe, de 13 anos, segurava durante o jogo do dia 8 de dezembro, no Rio de Janeiro. Marcos, timboense, tem deficiência visual e autista nível 3 de suporte, e sua presença no estádio foi o ponto alto de uma história de superação e amor materno. Para conhecer os detalhes dessa jornada, a redação do Jornal do Médio Vale (JMV) conversou com Rosa Cristina Silva de Souza, mãe de Marcos Felipe.
Rosa Cristina relatou como foi realizar o sonho do filho de visitar o Maracanã e assistir a uma partida do Flamengo, seu time do coração. “Tudo começou há dois anos, quando fomos à Arena da Baixada para assistir Flamengo x Atlético Paranaense. Marcos ficou tão empolgado com a experiência que, ao voltar para casa, fez o pedido: ‘Quero ir ao Maracanã’. Ele até encontrou uma pessoa que, no calor da emoção, prometeu levá-lo. No entanto, o tempo passou, e nada aconteceu. Eu expliquei que, naquele momento, isso não seria possível. Mas Marcos não esqueceu. Sempre que ouvia a transmissão de um jogo no Maracanã, ele perguntava: ‘Mãe, quando vou ao Maracanã?’”.
Rosa revelou que sentia uma dor imensa por não ter condições financeiras para realizar o sonho do filho, mas, ao mesmo tempo, não queria desistir. “Ver meu filho feliz tornou-se uma prioridade. Eu queria que ele tivesse memórias boas, que levasse consigo momentos de felicidade. Percebi que, sem agir, não teria resultado. Foi então que decidi fazer trufas para arrecadar fundos e transformar o sonho dele em realidade.”
Ela conta que pediu a Marcos para gravar um vídeo promovendo a campanha, e rapidamente a iniciativa ganhou apoio. “Ele conseguiu as passagens para nós dois, doadas pelo Edu Excursões, e quatro entradas, oferecidas por Douglas Marchetti, que viu o vídeo e decidiu ajudar. Apesar de termos arrecadados R$ 300,00, ainda não foi suficiente para cobrir todos os custos da viagem. Recebemos ajuda de pessoas como a professora Carla Geiza, uma vizinha, meu irmão e minha cunhada, que ajudou com a venda das trufas. Enfrentamos dificuldades ao longo do caminho, mas nada disso importa agora. O que importa é que, mesmo com todos os desafios, conseguimos. Ver a alegria do Marcos Felipe ao pisar no Maracanã foi como realizar algo que parecia impossível. Tenho certeza de que essa lembrança ficará viva para sempre. Como mãe, me sinto realizado. Para ele, o sonho era ir ao Maracanã; para mim, era vê-lo feliz.”
A redação também perguntou ao Marcos como ele se sentiu ao entrar no Maracanã no jogo do Flamengo. “Ah, foi uma emoção indescritível! Estar lá e sentir meu time do coração jogando foi incrível. Fiquei ainda mais feliz quando o Flamengo fez três gols e pude gritar com toda a força do meu coração!”
Por fim, Rosa Cristina abordou a questão da inclusão e da percepção das pessoas com deficiência. “Infelizmente, a sociedade muitas vezes ignora que essas pessoas têm emoções e sentimentos, como qualquer outra. Chegaram a me perguntar: ‘Por que levar ele ao Maracanã se ele não enxerga?’ Essa pergunta revela a falta de compreensão de que pessoas com deficiência são capazes de sentir alegria, emoção e felicidade. É fundamental que uma sociedade reconheça isso. No final, todos somos iguais no que realmente importa: emoções e coração”.