Há vidas que se constroem em silêncio, em passos discretos, e que de repente florescem em cores diante dos olhos do mundo. Assim é a trajetória da artista plástica Eduarda Hinsching, que se assina: @dudahin_art, uma criadora que, mais do que pintar paisagens, pinta estados de alma.
Sua história começa na infância, em uma casa onde a arte e a cultura eram presença constante. A leitura, herdada dos pais, e a música, que embalava os dias, abriram horizontes para a imaginação. Mas foram os materiais de artesanato da mãe: linhas, papéis, pincéis e pequenas tintas guardadas em caixas, que despertaram sua primeira curiosidade artística.
Nas aulas de artes da escola, essa curiosidade se transformou em paixão. Entre exercícios e experimentações, nasceu sua primeira tela vendida: um quadro encomendado por um professor, que a desafiou a pintar a casa de campo e a barragem de Alto Palmeiras. Mais do que a transação, o que ficou gravado foi a sensação de que suas mãos podiam transformar emoções em imagens capazes de tocar outras pessoas.
A vida, porém, não a conduziu de imediato ao universo das artes. Em 2015, iniciou sua trajetória profissional no campo do marketing digital, criando marcas e identidades visuais para pequenos empreendedores. Foi nesse período que descobriu o poder da comunicação visual aplicada ao cotidiano dos negócios. Paralelamente, seus estudos e interesses a levaram a outras áreas: Meio Ambiente e Segurança do Trabalho, onde atuou como técnica e lecionou no CEDUP Timbó.
Mas, mesmo entre números, normas técnicas e rotinas profissionais, a arte nunca deixou de acompanhá-la. Ela estava sempre lá, guardada em telas adquiridas nas papelarias da cidade, em pinceladas roubadas ao tempo corrido, em cadernos preenchidos de ideias e esboços. A arte tornou-se companheira inseparável, mesmo quando a vida parecia afastá-la dela.
O desafio de ser artista
O maior obstáculo, confessa, não foi a criação em si, mas a visibilidade. Como fazer com que suas obras alcançassem o público certo? Como transformar um hobby em algo que pudesse também dialogar com o mercado? A resposta surgiu através das redes sociais, que se tornaram suas principais vitrines. Publicando suas telas, processos criativos e reflexões, encontrou seguidores que se conectaram não apenas às imagens, mas às histórias por trás delas. “Acredito que cada passo, mesmo pequeno, ajuda a construir uma conexão mais forte com quem realmente se identifica com o meu trabalho”, afirma. E é assim que encara cada curtida, cada comentário, cada mensagem recebida: como parte do percurso de crescimento, lento e constante.
Seu estilo é marcado pelo paisagismo poético e pelo realismo simbólico, em que a natureza e os sentimentos humanos se entrelaçam. Trabalha com óleo, acrílica, aquarela e, mais recentemente, com o estilo fine line, explorando traços delicados em papel. Essa diversidade técnica não representa indecisão, mas uma busca constante por linguagens que expressem o que nem sempre cabe em palavras. “Eu não pinto apenas o que vejo, mas aquilo que sinto”, diz. Suas obras são confissões íntimas, traduzidas em cores suaves e temas universais como o silêncio, a solidão, o recomeço e a beleza do instante.
Obras que contam histórias
Cada tela guarda uma narrativa. “O Navegante”, por exemplo, já cruzou oceanos e hoje está nos Emirados Árabes, como presente para uma amiga querida. Um pedaço de sua alma viajou com a obra, levando consigo a certeza de que a arte é capaz de encurtar distâncias.
Outra obra marcante é “O Último Verão”, ainda em processo. Nela, revive a lembrança do último dia de infância ao lado do irmão, brincando à beira da praia sem saber que aquele momento seria o último daquela fase da vida. O quadro eterniza a beleza e a dor dos instantes que nunca voltam, transformando uma memória pessoal em experiência universal.
Entre suas influências, estão mestres como Caspar David Friedrich, pintor romântico alemão que transformava paisagens em reflexos da alma humana. Mas também se inspira em artistas contemporâneos e locais, como o indaialense Décio Saut, que traduz em suas obras a identidade do Vale do Itajaí.
Sua fonte maior, no entanto, é a própria natureza. Muitos de seus quadros nasceram em ambientes abertos, como o Morro Azul e o Jardim Botânico Franz Damm, espaços que ela descreve como extensões de sua própria sensibilidade.
A arte como caminho
Ainda não realizou sua primeira exposição individual, mas o sonho é cultivado com paciência. Por ora, suas obras habitam redes sociais, lares de colecionadores e memórias afetivas. Entre Timbó, Blumenau, Balneário Camboriú e destinos mais distantes, suas telas já cumprem a missão de tocar corações.
Ela sabe que o mercado da arte pode ser desafiador, mas não se intimida. “Nem todo mundo vai amar o que você faz, mas isso não quer dizer que você deve parar de fazer. Você só precisa achar o público certo”.
E talvez seja justamente essa convicção, essa entrega silenciosa e constante, que torne sua trajetória tão especial. Porque sua arte não é apenas técnica ou ofício: é vida. É memória. É poesia transformada em cor.