Em busca de compreender a complexa relação entre a privação de liberdade e o poder transformador da literatura, a renomada Professora Rossaly Beatriz Chioquetta Lorenset lança a obra “Leitura e Cárcere”. Este livro inovador, que aborda a fundo a temática da leitura e cárcere, será apresentado na 2ª Feira Literária de Florianópolis, oferecendo uma nova perspectiva sobre as condições de leitura nas unidades prisionais e o impacto da remição de pena por meio da leitura.
O lançamento de “Leitura e Cárcere”, da Editora Appris, está marcado para o dia 17 de maio, durante o evento literário que ocorrerá na cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz, no coração de Florianópolis. A obra convida à reflexão sobre as profundas desigualdades sociais, o funcionamento intrincado dos sistemas de segurança e justiça, as duras condições dos espaços de privação de liberdade e os objetivos da aplicação da pena. O livro é um relato impactante da experiência da autora, que coordenou por cinco anos um projeto de extensão de leitura no curso de Direito da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc Xanxerê), onde realizou entrevistas com detentos. A 2ª Feira Literária de Florianópolis (FLIF), organizada pela Academia de Letras de Florianópolis e pela Fundação Cultural Franklin Cascaes, acontecerá nos dias 17 e 18 de maio, celebrando a literatura em um espaço emblemático da cidade.
“É uma grande alegria apresentar ‘Leitura e Cárcere’ na FLIF, na capital do estado onde vivo”, compartilha a autora, Rossaly Beatriz Chioquetta Lorenset. “Tive a oportunidade de compartilhar a pesquisa que deu origem ao livro em diversos eventos acadêmico-científicos, disseminando reflexões importantes sobre o tema. É gratificante ver que ‘Leitura e Cárcere’ está sendo lido por detentos em todo o Brasil, e tenho participado de conversas enriquecedoras com eles.”
“Leitura e Cárcere”, fruto do doutorado de Rossaly em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), expõe uma problemática latente da Justiça brasileira: o país ocupa a terceira posição no ranking mundial de encarceramento. A Lei de Execução Penal (LEP), que completará 41 anos em 2025, prevê a remição de parte do tempo de execução da pena por meio do estudo ou trabalho, sendo que a cada livro lido, o detento tem direito a quatro dias a menos na prisão. Rossaly, que também atua como facilitadora de Justiça Restaurativa, explica: “A remição de pena por meio da leitura foi implementada no sistema penal em 2011, diante da carência de trabalho e de oportunidades de estudo para os presos. A leitura, nesse contexto, surgiu como uma alternativa para suprir essa lacuna, sem demandar grandes investimentos financeiros no sistema prisional.”
A pesquisa, realizada durante cinco anos no presídio de Xanxerê, revelou as precárias condições de leitura no sistema carcerário. Em “Leitura e Cárcere”, Rossaly compartilha um relato marcante: “Um detento, baleado na perna pelo próprio pai aos nove anos ao tentar proteger sua mãe, relatou que se envolvia tanto com a leitura que, mesmo após as luzes serem apagadas no presídio, ele conseguia permissão para manter a TV ligada até a meia-noite, aproveitando a luz tênue da tela para continuar lendo.”
Além disso, “Leitura e Cárcere” ilustra o impacto positivo da leitura na vida dos detentos, mostrando casos em que eles passaram a indicar livros aos filhos e a cultivar o hábito da leitura. “No entanto, também houve presos que, influenciados pela ideia de que a leitura é algo positivo e transformador, afirmavam que liam apenas para reduzir o tempo na prisão, revelando a complexidade da relação entre a leitura, o desejo e o sistema prisional”, completa Rossaly. O Brasil ainda enfrenta muitos desafios para aprimorar a remição de pena por meio da leitura. Uma pesquisa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revelou que, em 2023, apenas 11 das 27 unidades prisionais da federação possuíam estrutura para a implantação de bibliotecas nos presídios.
Sobre a Autora: Rossaly Beatriz Chioquetta Lorenset é Doutora em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Mestra em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Possui graduação em Letras Português-Inglês e respectivas Literaturas pela Facepal (Palmas-PR) e em Língua e Literatura Espanhola pela Unoesc. Desde 2001, atua como professora e pesquisadora de Língua Portuguesa na Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc Xanxerê). É autora também do livro “Língua e Direito: uma relação de nunca acabar”.
FONTE: DA REDAÇÃO