Há histórias que nascem pequenas, um olhar curioso, uma risada infantil e crescem junto com quem as vive. Assim começou a trajetória de Mey Füchter, 37 anos, atriz natural de Indaial que hoje mora em Munique, na Alemanha, e se firma como uma das vozes brasileiras no teatro europeu.
Formada em Administração e Artes Cênicas, esta última cursada na própria Alemanha, Mey carrega consigo a leveza de quem transformou um sonho de menina em ofício. “Uma das minhas primeiras lembranças é de quando tinha seis anos e apresentei um sketch com minhas amigas no CEBEM. Adorava ver as crianças rindo. Naquele instante percebi o poder da arte, ela muda o dia das pessoas”, recorda a indaialense em entrevista à redação do Jornal do Médio Vale (JMV).
Antes de atravessar o oceano, Mey viveu toda a sua vida em Indaial. Lá, entre cadernos, peças improvisadas e risadas de recreio, cultivou o desejo de emocionar o público. Mas o caminho até o teatro alemão foi cheio de curvas. “Fiz outras faculdades, trabalhei em áreas diferentes, até entender que atuar era minha vocação. E, mesmo ouvindo que não conseguiria atuar em alemão, não desisti”, conta ela.
Atuar em outro idioma é um desafio diário. “Apesar de ser fluente, ainda tenho sotaque, e isso causa estranhamento em alguns. Já sofri preconceito, mas aprendi a ver meu sotaque como parte de mim, ele é meu diferencial”, reflete.
“Adorável Desgraçada”: um espelho de emoções
Mey vive atualmente um dos capítulos mais intensos de sua carreira com o monólogo “Adorável Desgraçada”, texto da renomada dramaturga Leilah Assumpção, dirigido por Ricardo Eche. A peça, apresentada em português, mergulha nas contradições da personagem Guta: uma mulher que oscila entre ironia, solidão e desejo.
“A Guta é várias mulheres em uma só. Ela tem características muito diferentes das minhas, o que me obriga a pesquisar e crescer a cada ensaio. No palco, estou sozinha, mas o texto é tão vivo que parece que há outros personagens comigo”, explica.
Entre risos e lágrimas, a peça fala de frustração, rivalidade e solidão: temas universais, mas com sotaque brasileiro. “Os alemães acham fascinante a intensidade da Guta. Muitos se emocionam porque ela fala sem filtros. Para um povo mais contido, isso é libertador.”
Do coração da Baviera à
saudade da terra natal
Mey se prepara agora para circular com o espetáculo por outras cidades da Europa, levando o teatro brasileiro aos conterrâneos que vivem fora do país. Mas seu olhar está voltado também para o retorno. “Quero trazer a peça para Santa Catarina. Quando imagino me apresentando em Indaial, me emociono. A Meyzinha de seis anos jamais imaginaria estar nos palcos europeus, e a Mey de hoje mal pode esperar para voltar ao palco da sua terra.”
Com um sorriso que atravessa o Atlântico, Mey Füchter reafirma a força de quem acredita na arte como ponte entre mundos. “A Alemanha me deu oportunidades incríveis, mas o calor brasileiro é insubstituível. Fazer teatro em português é um abraço, na nossa cultura, na nossa história e em nós mesmos.”
E assim, entre dois continentes, Mey transforma saudade em poesia e o palco em lar.





