Os últimos dois finais de semana foram marcados por tempestades severas, com pelo menos seis municípios apresentando danos potencialmente provocados por tornados. Esse período de intensa instabilidade ocorreu durante a transição do outono para o inverno.
Essa situação evidencia características climáticas únicas da região Sul do Brasil, especialmente do Grande Oeste catarinense. Enquanto em outras regiões do país, como as regiões mais centrais e o norte, a estação do verão concentra os maiores riscos associados às chuvas, em Santa Catarina o risco permanece significativo ao longo de todo o ano.
Embora a frequência e os volumes de chuva diminuam no outono e no inverno, o potencial para tempestades severas continua elevado, sendo comuns os transtornos associados a esses eventos. Vale relembrar o episódio que ficou popularmente conhecido como “ciclone bomba”, ocorrido no inverno de 30 de junho de 2020 — há cinco anos. O evento provocou ventos superiores a 100 km/h em grande parte do estado, resultando em óbitos e deixando mais da metade das unidades consumidoras de energia do estado sem fornecimento.
Por esse motivo, a Gerência de Monitoramento da Proteção e Defesa Civil segue em constante monitoramento, avaliando pontualmente cada sistema meteorológico — seja frente fria, ciclone ou instabilidades mais breves — para identificar o potencial de risco que possam oferecer à população catarinense.
Pelo menos seis municípios foram afetados por tornados entre os dias 22 e 23 de junho
No último final de semana (entre a noite do dia 22 e madrugada de 23 de junho), a passagem de uma frente fria por Santa Catarina favoreceu o desenvolvimento de tempestades, sendo algumas severas, que produziram ventos acima dos 100 km/h, associados a frentes de rajada, microexplosões e até mesmo tornados.
Alguns dos fenômenos — como o tornado de Passos Maia — foram confirmados pela Proteção e Defesa Civil, com o auxílio de radares meteorológicos, satélites ambientais e sobrevoos aéreos com drone. Em levantamento posterior, a partir da colaboração com a PREVOTS (Plataforma de Registros e Rede Voluntária de Observadores de Tempestades Severas), mais ocorrências relacionadas à destelhamentos, danos na rede elétrica e vegetação foram atribuídas à formação de tornados. A PREVOTS é um grupo de meteorologistas que tem como objetivo melhorar a documentação, pesquisa e previsão de tempestades severas no Brasil.
Em nota, a Defesa Civil já havia confirmado um tornado no município de Passos Maia. O sobrevoo com drone na região realizado pela Coordenadoria Regional de Proteção e Defesa Civil – COREDEC revelou danos severos na vegetação, como tombamento de árvores de grande porte, assim como destruição de infraestruturas, incluindo galpões e residências.
A tempestade foi monitorada através dos radares meteorológicos quando atingiu o município por volta de 01h00 da manhã. A partir da análise das imagens do radar, foi possível identificar uma supercélula, que apresentava um padrão de rotação no campo dos ventos, assinatura típica de tempestades com potencial para provocar tornados.
Em levantamento posterior realizado pela PREVOTS, pelo menos outros 5 municípios apresentaram danos relacionados a tornados entre a noite do domingo (22) e madrugada de segunda-feira (23). Os registros foram identificados nas cidades de Xavantina, Belmonte, Descanso, São José do Cerrito e Lages. Entre Belmonte e Descanso, especificamente, foi observado a ocorrência tanto de microexplosão quanto de tornados.
As imagens abaixo, mostram o padrão de danos registrados nos municípios que reportaram a ocorrência de destruição, a maioria em áreas rurais.
Indícios de tornado em Campos Novos entre os dias 28 e 29 de junho
Na madrugada do domingo (29), o município de Campos Novos, localizado no Meio-Oeste catarinense, foi atingido por uma tempestade severa que provocou chuvas fortes e vendavais. Esta tempestade resultou em destelhamentos, queda de árvores, danificação da rede elétrica e alagamentos em diversos pontos da cidade.
Abaixo podem ser visualizados os danos na comunidade de Boa Esperança, no interior deste município. A remoção parcial dos telhados e a distribuição dos danos podem ser indicativos de um possível tornado. Entretanto, devido à distância do radar meteorológico de Chapecó e Lontras (maior que 150 km), não foi possível registrar assinaturas típicas de tornado nas medições.
Essa tempestade em especial, sendo considerada uma supercélula (tempestade severa), com maior potencial para ventos fortes e chuva intensa, avançou sobre a região do município de Campos Novos entre às 02h00 e às 03h00 da manhã (horário local). Os tons em vermelho indicam o momento em que a tempestade esteve mais intensa. Além disso, o produto de velocidade radial do vento, que estima a velocidade do vento provocada pela linha de instabilidade, apresentou uma estimativa de velocidade entre 90 e 100 km/h, no momento mais intenso da tempestade.
E como ficam as próximas semanas?
A previsão para a primeira quinzena de julho é diferente do registrado nas últimas semanas. Ou seja, não há previsão de chuva volumosa e intensas massas de ar frio. Os modelos meteorológicos indicam tempo firme, com sol e temperaturas mais amenas. Em alguns momentos podem ocorrer mudanças nos ventos, variação de nuvens e chuva isolada, mas nada que traga riscos para a população nas próximas duas semanas.
Fonte: DCSC