No coração do bairro Encano, em Indaial, um movimento silencioso e poderoso tem inspirado olhares e corações. O Projeto Água Viva, iniciativa do Instituto de Permacultura Vale do Itajaí (IPEVI), nasceu do entendimento de que a água é mais do que um recurso: é um bem comum, essencial para a vida e para a continuidade da própria comunidade. Selecionado em 2025 pelo edital da Fundação Fritz Müller, o projeto revela como pequenas ações coletivas podem gerar grandes transformações.
“O Projeto Água Viva é muito mais que uma ação ambiental: é um movimento de regeneração coletiva que une ciência, cultura e amor pela terra”, destacam os voluntários que estão à frente da iniciativa.
Os profissionais dedicam tempo e energia para cuidar do futuro: Nando Pilz – produtor de eventos; Carlos Caresia e Éder Sapelli – responsáveis pela infraestrutura; Paula Reck – proponente do projeto e responsável pelas mídias digitais; Viglio Schneider – facilitador das oficinas e comunicador; e Aline Varela – organização e apoio. Todos são voluntários e permacultores do IPEVI. Juntos, conduzem um processo que vai desde a implantação de agroflorestas até o fortalecimento das relações com a comunidade.
Cada um exerce um papel específico, mas todos compartilham da mesma ética da permacultura: cuidar da Terra, cuidar das pessoas e partilhar os excedentes. Essa união de saberes e práticas transforma o projeto em uma verdadeira rede de apoio e inspiração.
A importância das nascentes do Encano
Em entrevista ao Jornal do Médio Vale (JMV), os voluntários relatam que o rio Encano nasce dentro do Parque Nacional da Serra do Itajaí, território de altíssima relevância ecológica. Suas nascentes abastecem famílias, sustentam a agricultura familiar, fortalecem o turismo de natureza e garantem a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica.
De acordo com eles, para a comunidade, cuidar dessas águas significa assegurar vida em quantidade e qualidade. É proteger contra riscos de contaminação, erosão e escassez — problemas cada vez mais comuns no Brasil. É também um gesto de identidade: as águas do Encano carregam valores culturais e simbólicos, conectando as pessoas ao território.
No contexto do IPEVI, “plantar água” é mais do que metáfora: é prática diária. Por meio da agrofloresta, espécies agrícolas e florestais se unem para recuperar áreas degradadas, aumentar a biodiversidade e devolver ao solo sua capacidade de infiltrar e liberar água em ciclos equilibrados.
Os voluntários observam que cada muda plantada ajuda a reter umidade, enriquecer o solo e alimentar lençóis freáticos. É ciência aplicada à terra, mas também um ato educativo: ao envolver a comunidade em mutirões, o projeto mostra que é possível reverter a degradação e gerar abundância utilizando apenas recursos locais.
Trilha ecológica: sala de aula na floresta
O coração do projeto são as oficinas e vivências comunitárias. Já aconteceram encontros como Saberes da Permacultura: Água na Paisagem, que refletiu sobre o manejo da água, e Sistemas Ecológicos de Tratamento de Efluentes, que apresentou soluções como fossas ecológicas, círculos de bananeiras e banheiros secos.
Os voluntários informam que as próximas oficinas incluem Captação e Filtragem de Água Potável, no dia 21 de setembro, e Plantando Água, com data prevista para outubro. Além disso, os mutirões seguem abertos, com atividades de estruturação de trilhas, instalação de placas educativas, construção de composteiras e implantação da agrofloresta. Tudo gratuito e aberto ao público, reforçando o caráter inclusivo do projeto.
Outra frente da iniciativa é a abertura de uma trilha educativa de 400 metros: primeira etapa de um circuito de 2,5 km dentro do IPEVI, localizado na Rua Reinhold Schroeder, 11.420, no bairro Encano, em Indaial. Ela leva os visitantes até as nascentes que abastecem famílias vizinhas e o próprio instituto, passando por áreas de agrofloresta e Mata Atlântica.
A trilha é contemplação, mas também aprendizado: placas educativas ajudam a compreender o papel da água, da floresta e dos sistemas regenerativos. É uma vivência que une ciência, espiritualidade e bem-estar, uma verdadeira imersão no “banho de floresta”.
Os voluntários explicam ainda que o Projeto Água Viva é o terceiro aprovado pelo IPEVI junto à Fundação Fritz Müller, reforçando a credibilidade do instituto. Os recursos do edital garantem desde a execução das oficinas até melhorias de infraestrutura, como sistemas de captação de água e sinalização educativa. Esse apoio institucional legitima o trabalho e abre portas para novas parcerias, consolidando o IPEVI como referência em sustentabilidade e práticas regenerativas na região.
“Todas as oficinas, mutirões e vivências são gratuitas e abertas à comunidade, em um gesto que reforça o compromisso do instituto com a inclusão social e a democratização do conhecimento.”
Expectativas para o futuro
Os voluntários adiantam que “o IPEVI espera ampliar o engajamento da comunidade do Encano e de todo o Vale do Itajaí, inspirando moradores a se tornarem agentes de transformação em suas casas e ruas. Já estão previstos novos mutirões, a ampliação da trilha e a conclusão da reestruturação do sistema hídrico do instituto”.
Segundo eles, mesmo após o término do edital, o Projeto Água Viva seguirá vivo: sustentado por princípios de solidariedade, coletividade e partilha justa, valores que já fazem parte da história do IPEVI desde sua fundação.
“No Encano, quando a comunidade planta árvores, cultiva agroflorestas e cuida das nascentes, o que floresce não é apenas verde: é água, é vida, é futuro”, reforçam os voluntários.