Tradição e riqueza nos detalhes
Tia e sobrinha são responsáveis pela confecção dos trajes das rainhas dos 150 anos de Timbó …
Clarice Graupe Daronco / JMV
TIMBÓ – Delicadeza, elegância e riqueza nos detalhes. Assim estão sendo criados e confeccionados os vestidos que serão usados pelas rainhas dos 150 anos de Timbó. As responsáveis pelas peças magníficas que em breve serão apresentadas são a tia e sobrinha: Elfriede Wamser, que é bordadeira há mais de 40 anos e Silvia Regina Berndt, que é estilista com formação em moda e marketing. Elfriede cuida dos bordados dos vestidos e Silvia está fazendo a parte da costura. Em entrevista à redação do JMV, as duas contam como está sendo o desafio de confeccionar os vestidos que serão usados pelas rainhas dos 150 anos de Timbó. “São três vestidos, um em azul, um em verde e outro em dourado e todos estão sendo bordados à mão com detalhes da tradição alemã”, destaca Silvia que foi quem desenhou os vestidos.
Segundo ela, a idéia é resgatar algo que era feito antigamente. “Estamos falando dos bordados à mão, que são a imitação de um ponto cheio tradicional, composto por bastante cor para valorizar o tom de fundo de cada vestido”, observa Silvia ao recordar que os bordados são uma tradição que se perpetua na família há muitos anos.
Elfriede conta que trabalha com bordados para comercializar há mais de 40 anos. Na questão dos modelos para os vestidos das realezas, ela explica que são reprodução de seus moldes pessoais e num passado recente comprou todos os moldes da antiga Casa Meyer.
“O desenho é riscado no tecido e depois é bordado com as cores escolhidas. Eu e a Silvia tínhamos uma idéia, montamos e deu certo”.
Questionada sobre o que sente ao estar bordando os vestidos das rainhas dos 150 anos de Silvia, Elfriede afirma, com lágrimas nos olhos: “Emoção. Muito orgulho em poder fazer parte da história, de reviver um trabalho que vem de geração em geração na minha família. Sou muito feliz em poder fazer este trabalho e junto com ele poder contar um pouco da nossa história, de Timbó”.
Qual das cores para cada rainha
O diretor-presidente da Fundação Cultural de Timbó, Jorge Ferreira, também fala sobre os vestidos que serão usados pelas rainhas dos 150 anos de Timbó. “Para os festejos dos 150 anos de Timbó, foi criada uma logo para ser utilizada nos vários meios de comunicação e na divulgação da programação dos eventos alusivos à data. A logo foi desenvolvida pelo setor de Imprensa da Prefeitura Municipal de Timbó com a aprovação do Conselho dos 150 anos. A logo foi baseada nas cores da bandeira do município e na representação das belezas naturais de Timbó, fazendo alusão aos rios que cortam a cidade e à beleza natural do município”.
De acordo com Ferreira, utilizando essa representação, foram escolhidas as cores para compor os vestidos das realezas dos 150 anos de Timbó. “A Rainha dos 150 anos usará um vestido na cor azul, para a Rainha do Turismo foi escolhida a cor verde, e para a Rainha da 29ª Festa do Imigrante foi escolhida a cor dourada, sendo que todos os vestidos foram bordados à mão”.
A apresentação dos vestidos acontecerá no dia 4 de maio, pela realeza do Sesquicentenário de Timbó. O ato será durante o 2º Encontro Nacional de Grupos Folclóricos Germânicos que estará sendo realizado em Timbó, através do grupo folclórico Volkstanzgruppe Blauer Berg em parceria com a Fundação Cultural.
Resgate do bordado
Ferreira explica que o bordado é uma das mais fortes expressões culturais dentro da categoria do artesanato, sendo um dos grandes legados culturais trazidos pelos imigrantes alemães para a região. “Ao se falar em bordados na nossa região do Vale do Itajaí, os mais antigos saudosamente vão lembrar da Casa Meyer, comércio fundado em 1903 pelo filho de imigrantes de alemães Ricardo Meyer, atravessou o século comercializando produtos típicos da região, popularmente conhecida como a casa do bordado típico blumenauense e difusor da arte do bordado no Vale do Itajaí. A importância do bordado neste período foi tão representativa, que um tipo de bordado exclusivo foi criado pelo artista Wilfried Meyer, proprietário do comércio, que influenciou sua utilização por bordadeiras por várias gerações, sendo utilizado no adorno de trajes típicos femininos muito utilizado na nossa região”.
Segundo o diretor-presidente da Fundação Cultural, a cidade de Timbó, também em décadas passadas foi reconhecida através da produção de bordados. “Pode-se dizer que sua pioneira foi a frau Erica Berndt (nascida Clasen). Frau Berndt começou a bordar na década de 40, para ajudar nas finanças da casa, com o passar do tempo, e conforme as vendas cresciam, começou um pequeno negócio, chegando em certo momento a ter 10 bordadeiras desenvolvendo peças que adornavam casas por todo o país e também na Europa. Do trabalho e da paixão pelo bordado a filha Elfriede, desde menina, começou a bordar com a mãe, recebendo esta herança cultural, e com o passar do tempo tornou-se uma especialista em bordados, seja realizando uma técnica específica para tirar os moldes do papel para o tecido, seja na execução das peças e também na criação de novos moldes para bordar”.
Ferreira conta que Frau Berndt faleceu em 2010, com quase 93 anos, mas o bordado foi sua ocupação até os seus 87 anos. Elfriede neste ano comemora seus 83 anos, ainda exercendo o trabalho manual, e para ela o segredo não está somente relacionado ao modo de bordar, mas também na escolha correta das cores e pretende por muitas décadas ainda exercer a arte de bordar, uma das mais belas heranças que sua mãe a deixou. “A Fundação Cultural, neste ano quis homenagear esta expressão cultural tão representativa da imigração alemã, nos vestidos da realeza dos 150 anos de Timbó, convidando Elfriede Wamser, para realizar os bordados nos vestidos das rainhas, como forma de valorizar o bordado e as bordadeiras da cidade, como forma de homenagear esse legado e consolidar essa conexão entre o passado e o presente, sendo que o futuro desses vestidos será ficarem expostos no Museu do Imigrante em Timbó”.
Significado dos detalhes e das cores escolhidas
O ponto utilizado no bordado dos vestidos da realeza dos 150 anos de Timbó é uma variação do ponto cheio, que foi o ponto mais indicado para bordar o tecido que vai compor o traje das nossas rainhas. “O ramo de flores bordados nos vestidos, foi inspirado em antigos moldes trazidos ainda da Alemanha, os moldes para o bordado eram criados conforme as flores que nasciam nos jardins alemães, os ramos bordados nesses vestidos foram inspirados nas flores: papoulas, centáureas, margaridas e espigas de trigo, elementos florais utilizados há décadas para compor os moldes para bordados”.
Objetivo deste novo modelo de peças
Com a chegada dos 150 anos da cidade de Timbó, vários eventos foram organizados ao longo de 2019, alguns eventos criados especialmente para as comemorações e outros que já fazem parte do calendário de eventos da cidade foram remodelados. “Na Festa do Imigrante de 2018, foram escolhidas três rainhas, fato inusitado, realizado pela primeira vez em 28 edições da Festa. Que são: Rainha do Turismo, Rainha do Sesquicentenário (150 anos) e Rainha da 29ª Festa do Imigrante e assim como foi ousado a escolha das rainhas a Fundação também quis inovar nos trajes oficiais”.
Ferreira conta que a ideia era fazer um modelo de vestido que nunca tinha sido confeccionado para as realezas do município, um vestido que pudesse ser utilizado de duas formas diferentes, para a noite e dia em duas peças, um vestido e um colete. “Neste ano não usaremos vestidos com detalhes em brocados, mas sim, resgataremos uma tradição, cada vez mais em desuso, o bordado à mão. Nossa região em outras décadas era conhecida pela qualidade dos bordados, e a cidade de Timbó também produziu bordadeiras do mais alto nível. A utilização de bordados à mão nos trajes das realezas de 2019 é uma forma de resgatar e homenagear nossas bordadeiras que difundiram esta técnica de artesanato por tantos anos em nossa cidade e região, herança também deixada por nossos imigrantes”.
