Memórias marcam a vida das pessoas. O cheiro da comida, o aconchego do lar, as conversas e risadas durante reuniões familiares, como aniversários ou celebrações de Natal, são lembranças que permanecem vivas. Essas memórias são evidentes nas palavras da família de Noca Lorenz e seu esposo Ivan Danker, ao falarem da Casa da Oma Lorenz, que neste mês de setembro completa 100 anos de existência.
Conhecer a memória e as lembranças das famílias é uma maneira encantadora de mergulhar em sua história. Costumes e edificações são testemunhas do desenvolvimento que permanece vivo na memória de gerações. É dessas memórias afetivas que extraímos as melhores histórias.
A Casa Oma Lorenz foi construída por Fritz Lorenz, esposo de Oma, em 1924. Na época, a casa era considerada uma edificação urbana de porte significativo, com paredes autoportantes rebocadas, situada na rua Fritz Lorenz, 2, esquina com a rua Pomeranos. A estrutura era enxaimel, com o primeiro andar de tijolos e o segundo e terceiro andares em madeira e estuque. No sótão, havia uma suíte com banheiro, sendo a primeira residência em Timbó com uma suíte no andar superior e água quente disponível. No quarto do casal, havia um espaço estilo sacada fechada, que servia como canto de leitura. Fritz Lorenz viveu na casa com sua família até 1954, ano de seu falecimento. Desde então, a casa passou a ser conhecida como Casa da Oma Lorenz e, por muito tempo, foi um ponto de referência para os viajantes que chegavam à cidade. A residência também faz parte da memória afetiva das crianças da vizinhança, devido ao pomar no quintal lateral. Oma Lorenz morou na casa até seu falecimento, em 1998. Em 2017, a parte externa da casa foi tombada pela Fundação Catarinense de Cultura e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Atualmente, a casa foi revitalizada e transformada em um ponto de lazer e gastronomia.
Noca e Ivan também compartilham um pouco da história de Fritz Lorenz, fundador da casa centenária. “Fritz Lorenz era neto de Fritz Müller, e foi com o avô que ele aprendeu a ler e escrever. Ele não frequentou a escola convencional. Usava uma lousa de pedra e um paninho, onde escrevia as tarefas que o avô passava, apagando depois para novas atividades. ”
Noca ressalta que não podemos deixar de registrar o reconhecimento científico obtido por Fritz Müller em vida. Em 1868, a Universidade de Bonn concedeu-lhe o título de Doutor Honoris Causa; em 1874, foi nomeado sócio-correspondente da Sociedad Zoológica Argentina; no mesmo ano, recebeu outro título de Doutor Honoris Causa, pela Universidade de Tübingen; em 1884, foi escolhido sócio-correspondente da Sociedad Nacional de Ciencias de Buenos Aires e tornou-se sócio honorário da Entomological Society de Londres.
Com um professor tão ilustre, o jovem Fritz Lorenz e seu irmão Hans adquiriram coragem e conhecimento para perseguir seus sonhos.
Eles iniciaram uma empreitada industrial em Timbó, abrindo atafonas pela região, o que posteriormente resultou na formação de um grande conglomerado industrial. Sob a liderança de Fritz Lorenz, foi fundada a Indústria e Comércio Geral Lorenz, detentora da marca “URU”. “Esse conglomerado, que incluía madeireira, transportadora, siderúrgica e frigorífico, teve um sucesso meteórico. O grupo chegou a ser destaque nacional pelo tamanho do matadouro, que foi o maior frigorífico da América Latina”, comenta Ivan Danker, ao destacar também a atuação política de Fritz Lorenz, que foi vereador em Blumenau pelo Distrito de Timbó, no início dos anos 1930.
Para concluir, Noca destaca o legado duradouro de Fritz Lorenz, que marcou não apenas o desenvolvimento industrial, mas também a memória afetiva de Timbó e toda a região.