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sábado, 7 de setembro de 2024

Nada derruba o homem de fé. Deus é providencial

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Nada derruba o homem de fé. Deus é providencial
Polêmico, verdadeiro e muito feliz. Assim é o padre Carlos Humberto Carneiro de Camargo, conhecido …

Cleiton Baumann

Liliani Bento

Polêmico, verdadeiro e muito feliz. Assim é o padre Carlos Humberto Carneiro de Camargo, conhecido carinhosamente como padre Carlão, 55 anos, e pároco da Igreja Santa Terezinha, em Timbó. Muito alegre, o padre é visto com frequência em bailes e festas populares. O padre diz que não se importa com o que falam e afirma que o importante é dar-se ao respeito para ser respeitado. Desta forma, pode-se frequentar qualquer lugar.
Diferente e muito envolvido com as causas sociais, o padre atende cerca de 10 pessoas diariamente, que o procuram em busca de auxílio. Muitas vezes apenas uma palavra de fé. Em outros momentos, são pessoas que precisam de comida, dinheiro, remédios. Esse trabalho o padre, junto com sua equipe, desenvolve com muito amor e fé, sabendo que a religião se mostra na prática, e não apenas no discurso.
 

Jornal do Médio Vale – Quando o senhor despertou para a vocação religiosa?
Padre Carlos Humberto Carneiro de Camargo (padre Carlão) – Na verdade eu nunca tinha pensado em ser padre. Morei com meus familiares até os 20 anos, terminei os estudos e até trabalhei durante seis anos num cartório. Eu sempre quis estudar muito, queria fazer belas artes. Era muito festeiro, gostava de sair com os amigos. Mas ao mesmo tempo, sempre fui muito religioso. Minha família é muito religiosa. Estudei em colégio de freiras. Apesar de nunca pensar na vida religiosa, paralelamente, sempre estive envolvido com grupos de jovens e também já era catequista com 14 anos. Até que um dia participei de um encontro vocacional promovido por várias congregações religiosas e conheci o trabalho missionário. Foi então que decidi o que queria realmente fazer da minha vida. Eu decidi que seguiria a vida religiosa.

JMV – Como foi sua trajetória depois da escolha pela vida religiosa?
Padre Carlão – Eu fui para Curitiba, sou de Peabiru (interior do Paraná), estudar Filosofia na Pontifícia Universidade Católica por três anos. Paralelamente, trabalhei em escolas da periferia e fazendo um trabalho pastoral. Depois fui para São Paulo fazer o noviciado (tempo de estudo e reflexão a respeito da congregação) e fiz quatro anos de Teologia na Itesp. Sempre estudando e praticando trabalhos na periferia e ajudando quem precisava nos finais de semana.

JMV – Quando o senhor se ordenou padre e como foi sua experiência?
Padre Carlão – Eu já estava com 30 anos quando me ordenei no dia 08 de dezembro de 1984 na minha cidade, Peabiru.  Fui nomeado para ficar em Foz do Iguaçú. Dois anos depois fui para São José dos Pinhais onde fiquei cinco anos. Ali passei um período difícil, pois, era uma paróquia recém criada, sem infraestrutura. Exigia um grande investimento pastoral. Tivemos que construir a casa paroquial e, então, iniciamos uma obra social: um centro de amparo para meninos e meninas em idade escolar. A casa existe até hoje e desenvolve um trabalho preventivo com 150 crianças. No centro eles ganham almoço e desenvolvem trabalhos artesanais, oficinas, com o objetivo de ocuparem o tempo com coisas boas. Depois fui para Naveraí, no Mato Grosso do Sul, e a realidade era totalmente diferente do que eu estava acostumado.

JMV – Como assim?
Padre Carlão – A cidade estava cheia de migrantes de vários estados do Brasil. Mas havia muitas questões agrárias, foi sede de acampamento por três anos. Foi um período de muita polêmica, havia muitos assassinatos e conflitos. Tínhamos que fazer atendimento para pessoas diferentes e em situações diferentes, em fazenda, na cidade, na igreja. Fiquei 11 anos e decidi que precisava dar um tempo, refazer minhas forças. Por isso, optei pelo sul do Brasil. Estou há seis anos na Igreja Santa Terezinha, emTimbó.

JMV – O que o senhor encontrou em Timbó?
Padre Carlão – Peguei uma paróquia pastoralmente boa. Mas estava um pouco desestruturada, principalmente, financeiramente. O dízimo era insignificante e as instalações precisavam de reparos. Nesses seis anos organizamos a casa, reformamos a igreja, ampliamos instalações, o salão paroquial, colocamos os banheiros dentro dos padrões exigidos pela vigilância e pelos bombeiros, construímos um auditório e o Memorial do Padre Martinho Stein (primeiro pároco de Timbó). Fizemos tudo isso com recursos oriundos da comunidade, através de dízimo, colaborações espontâneas, festas e campanhas. Com uma boa administração, conseguimos fazer o que era necessário.

JMV – O senhor desenvolve algum trabalho social na paróquia?
Padre Carlão – Nos moldes do que fazíamos em São José dos Pinhais não temos nada. Mas aqui atendemos muitas demandas sociais, são doações de alimentos e roupas, remédios, passagens para pessoas que vieram tentar a vida aqui e não deu certo e querem voltar para sua cidade natal. Apesar de não parecer, temos muitas pessoas que passam necessidades em Timbó.

JMV – O senhor é muito conhecido na cidade. Já causou até alguma polêmica. O senhor atribui a quê a sua popularidade?
Padre Carlão – Bom, realmente eu sou muito popular. Eu gosto de estar no meio do povo. Sou amante da verdade, não sou de mandar recado para ninguém. Sou muito sincero. Talvez, no começo, tenha causado estranheza na comunidade, porque eu gosto de frequentar bailes, festas populares, gosto de dançar e de conversar com o povo. Gosto de tomar um banho de rio, de praia. E a igreja não proíbe os padres de fazerem essas coisas. O segredo é dar-se ao respeito para ser respeitado. A comunidade já se acostumou com o meu jeito.

JMV – Qual o seu hobby?
Padre Carlão – Meu hobby é trabalhar. Gosto do que faço. Gosto de atender ao povo. E quando é possível, dançar, passear, ir à praia. Gosto muito do que é belo, afinal, Deus está no belo e nos criou para a felicidade. Não fomos criados para sofrer.

JMV – Mas muitas vezes os padres pregam que temos que ser humildes. Como o senhor vê isso?
Padre Carlão – Temos que ser humildes sim. Mas humildade não significa viver mal. O que temos que fazer é aprender a conviver com o que temos, mas dando prioridade para quem somos. O que vale, na verdade, é quem somos e o que somos para as outras pessoas. É importante cuidar do nosso comportamento com o que temos, mas ter bens materiais não é motivo de vergonha. O importante é sempre lembrarmos que o homem de fé não cai, Deus é providencial.

JMV – Como o senhor vê a proliferação de outras religiões?
Padre Carlão – Sou uma pessoa muito aberta para a questão das outras religiões. Não tenho dificuldade nenhuma em me relacionar com os irmãos de outras crenças. Respeito qualquer profissão de fé, desde que respeitem a minha religião. Sou contra, sim, ao comércio de algumas pseudo-igrejas que alienam as pessoas em nome de Deus.

JMV – A proliferação de outras igrejas está levando muitos católicos para outras religiões. Não seria o caso da igreja católica se renovar?
Padre Carlão – A igreja tem que estar a serviço do povo. Falar a linguagem do povo. Temos que falar de Deus de modo que o povo entenda. A religião é a prática de vida. O povo tem sede de Deus e por isso procura alternativas. Mas as mudanças demoram para acontecer. Depois de dois mil anos fechada, a igreja abriu faz apenas 50 anos.

JMV – Muito tem se falado sobre a possibilidade dos padres terem família. Qual sua opinião sobre isso?
Padre Carlão – Para ser padre temos que gostar de família, de pessoas, senão como trabalharíamos com o povo? Acredito que ainda haverá discussões a respeito desse assunto e não descarto essa possibilidade. Acredito, inclusive, que no futuro, os padres não serão somente padres. Eles terão que ter uma profissão e pregar a palavra de Deus. As novas gerações pensam diferentes das anteriores. Tudo muda e a igreja deve acompanhar essa mudança. Mas a igreja já avançou muito, principalmente com o Papa João Paulo II. Vamos esperar para ver como evoluem essas discussões.

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