Foi como se o tempo tivesse parado — ou melhor, como se tivesse sido redesenhado. Jaque Z. Brandt, natural de Timbó, viveu o que muitos classificariam como o improvável: aos 35 anos, em setembro de 2024, sofreu um AVC Hemorrágico (AVC-H). Mas a história que parecia fadada a se tornar estatística virou poesia em forma de vida, escrita com coragem, superação e amor. Em março de 2025, essa experiência renasceu nas páginas de um livro e na melodia de uma canção.
Em entrevista à redação do Jornal do Médio Vale (JMV), Jaque Z. Brandt conta sua história, que tem dor, mas também o milagre da vida. “Era para ser apenas o retorno de uma viagem, um reencontro rotineiro com o cotidiano. Mas bastou um segundo — uma dor de cabeça súbita e lancinante no banheiro do aeroporto — para o meu destino tomar um novo rumo. Ainda lúcida, mesmo com a dor insuportável, tentei entender o que estava acontecendo. Foi meu marido, não um médico, quem reconheceu os sinais e lutou bravamente para que eu fosse transferida de hospital. Ali, entre salas de espera e diagnósticos urgentes, começou a corrida contra o tempo.”
Horas depois, Jaque entrava em uma cirurgia de alto risco. O coma induzido que a envolveu por 30 horas foi apenas a superfície de um mergulho profundo que tocou dimensões da existência que palavras quase não alcançam. Ela acordou 33 horas depois, entre a vida e a transformação.
Segundo Jaque, “a reabilitação veio como um renascimento. Um passo por vez. Um sopro de fé por dia. O corpo respondia, o cérebro surpreendia. A vida reaprendia a se equilibrar entre o visível e o que se perdeu — como a hemianopsia homônima esquerda, a sequela irreversível que me tirou parte do campo visual, mas jamais a visão do que realmente importa. Minha recuperação física foi minha. A emocional e mental foi dos meus amores”, ela diz. E é assim que o amor atravessa seu livro: como antídoto, como alicerce, como luz no escuro.
“Renasci Após o AVC-H”: palavras como testemunhas da vida
Escrever a própria história com os olhos ainda em recuperação não é apenas um exercício de memória — é um ato de coragem. Jaque decidiu transformar sua dor em mensagem. “Renasci Após o AVC-H” é sua autobiografia do renascimento. Não um renascimento místico, mas visceral. Real. Em carne, espírito e palavra.
Segundo ela, a escrita foi um processo de cura. Ao revisitar o coma, a cirurgia, os pequenos gestos e os grandes silêncios, Jaque se reconectou com os fragmentos do que viveu — e com tudo que não pôde ver ou ouvir, mas que foi contado por seus pais e seu esposo. Um dos capítulos mais tocantes? As cartas que ela escreveu, como se fossem despedidas que a vida, por um triz, não exigiu. “A carta para meus sobrinhos é a mais emocionante”, confessa, “porque ali deixei conselhos e amor, caso não pudesse vê-los crescer.”
Mais que um diário, o livro é um convite à pausa, à escuta do próprio tempo, à valorização do agora. Uma obra que nos relembra a urgência de dizer o que sentimos antes que o silêncio seja a única possibilidade.
A música do recomeço: quando a voz também renasce
Como se não bastasse escrever, Jaque também cantou. Literalmente. A música “Desperta Meu Sorriso”, sua primeira composição e interpretação, nasceu anos antes, em forma de e-mail romântico ao esposo. Mas só ganhou vida após o AVC-H, quando ela entendeu o verdadeiro significado da presença e do amor incondicional.
Ele — o marido que salvou sua vida — inspirou cada nota. E foi com a própria voz, meses após a cirurgia, que Jaque gravou a canção, celebrando não apenas o amor, mas a dádiva de poder cantar. Produzida por Junior Marques, a música está disponível em todas as plataformas e carrega, na delicadeza de sua melodia, a intensidade de uma história que o coração jamais esquece.
Uma nova Jaque: mais leveza, menos pressa
Hoje, Jaque se olha no espelho e vê outra mulher. Os cabelos agora curtos simbolizam uma versão de si que renasceu. Mais consciente, mais conectada com o que é essencial. “A tristeza não me pertence mais”, diz. As dores ainda existem, mas foram suavizadas pela certeza de que o tempo é um presente — e não um contrato.
Sua mensagem ecoa como um abraço para quem também passa por dores invisíveis: “Cuide do corpo, da mente, das emoções e da alma. Diga o que sente. Valorize o tempo.” Seus planos? Já começou a escrever a continuação do livro e compôs outras três músicas — uma delas dedicada às sobrinhas, guardiãs do seu riso mais genuíno.
“Renasci Após o AVC-H” está disponível em versão impressa na Amazon e no Clube de Autores, e em formato digital no Kindle. Jaque também compartilha sua trajetória no Instagram, no perfil @jaque.zbrandt.
Essa é a história de quem viu a vida por um fio — e decidiu tecer novos fios de esperança para quem vier depois.