Os trajes típicos desempenham um papel essencial na preservação da cultura e identidade das comunidades, conectando gerações e promovendo a valorização das tradições. No caso das culturas alemã e italiana, essas vestimentas carregam uma herança rica e significativa. Exemplos como o dirndl e o lederhosen no folclore alemão, assim como as variações regionais italianas, incluindo o estilo opulento da Sicília e o germânico do Tirol do Sul, ilustram essa ligação com as raízes históricas.
Mesmo na modernidade, os trajes típicos preservam sua essência, frequentemente reinterpretados por designers contemporâneos que combinam tradição e inovação. Utilizados em festas e celebrações, essas vestimentas promovem o orgulho étnico e reforçam a coesão social. Iniciativas de preservação cultural, apoiadas por governos e entidades, garantem que essa herança seja transmitida às futuras gerações.
Em Timbó, os trajes da corte Adulta e Mirim, bem como os dos integrantes da Comissão Central Organizadora da Festa do Imigrante, são confeccionados pela estilista timboense Silvia Regina Berndt. Formada em Moda com habilitação em Estilismo Industrial pela FURB, em 2002, e com pós-graduação em Marketing e Moda pelo IBModa, em 2004, Silvia desenvolveu os trajes usados durante a 32ª edição da Festa. Com vasta experiência no setor, Silvia possui uma clientela diversificada, que inclui a Fundação de Cultura de Timbó, a Fundação de Cultura de Ascurra, o Grupo Folclórico “Fridas” de Apiúna, além de diversas escolas e grupos de dança da região. Em entrevista ao Jornal do Médio Vale (JMV), ela compartilhou detalhes sobre o processo criativo e a confecção dos trajes, que exigem dedicação minuciosa, desde a escolha dos tecidos até a finalização artesanal das peças.
Inspiração
Questionada sobre a principal inspiração para os trajes das realezas desta edição da Festa do Imigrante, Silvia explicou: “Nesta edição, nos inspiramos nos trajes típicos alemães, ricos em referências culturais. Hoje, muitos trajes na Alemanha seguem uma paleta monocromática, e usamos essa tendência para as realezas. Embora sempre incorporemos elementos italianos, nesta edição a inspiração foi predominantemente alemã”.
Sobre o processo de escolha dos tecidos e cores e seu significado cultural, a profissional detalha: “Desde a escolha do modelo até os tecidos e aviamentos, todo o processo foi realizado em conjunto com o presidente da Fundação Cultural de Timbó, Jorge Ferreira. Buscamos algo que chamasse a atenção, sem perder o caráter típico. Nem sempre encontramos exatamente o que procuramos, o que nos obriga a adaptar a ideia inicial. Para o último traje, optamos por tons pastéis combinados com renda guipir, conferindo glamour às peças, sempre considerando o clima tropical do Brasil”. Ela acrescentou que “os tecidos são geralmente importados, comprados em comércios da região, e todos os vestidos apresentam bordados e aplicações manuais”.
Sobre os maiores desafios de criar um traje que refletisse a herança cultural dos imigrantes, mantendo-o contemporâneo e elegante, Silvia observou: “Ao longo dos anos, os trajes típicos na Europa evoluíram, mas, por conta da proposta da Festa, mantivemos o estilo da época da imigração, incorporando toques contemporâneos inspirados nos trajes europeus atuais. Nosso foco é sempre o estilo predominante na Europa durante o período das grandes imigrações, ou seja, de meados do século XIX até o início do século XX”.
Peças personalizadas
Sobre o processo de confecção, a estilista comenta que “cada traje leva, em média, 20 horas para ser confeccionado. No entanto, o processo de idealização, modelagem e testes exige centenas de horas antes da finalização e ajuste das peças para as realezas. Todo o processo é manual e personalizado, com até mesmo as flores da renda que compõem a saia e os detalhes do vestido feitas à mão”.
Quando perguntada se houve personalizações específicas para cada uma das realezas, Silvia confirmou: “Sim, os vestidos são confeccionados com uma sobra de tecido para ajustes posteriores, conforme as medidas das novas realezas. Isso é desafiador, pois já tivemos que desmontar e refazer vestidos inteiros. Até o calçado usado influencia nos ajustes finais”.
Quanto às expectativas, a profissional afirma: “A maior gratificação é ver a felicidade das realezas ao vestirem os trajes, representando com orgulho as tradições. Esperamos que o público perceba as influências ítalo-germânicas nos trajes e note os novos elementos incorporados. Algo comum em todas as edições é que, até que o vestido esteja perfeito, ninguém descansa. Esse cuidado minucioso faz toda a diferença no resultado final. Buscamos celebrar e perpetuar as tradições culturais, mantendo-as vivas e relevantes por meio da moda e dos estilos”.