Independente da profissão ou fase da vida, manter uma agenda lotada é uma característica comum entre mulheres adultas. Para as mães, essa lista de tarefas cresce ainda mais. Embora a capacidade de lidar com múltiplos compromissos seja frequentemente vista como algo positivo, ela também pode resultar em uma sobrecarga que afeta a saúde mental das mulheres. Quando há o diagnóstico de uma doença, como o câncer de mama, essa sobrecarga pode ser ainda maior, principalmente pelo impacto que a doença pode ter na autopercepção da feminilidade.
A Comissão de Estudos e Pesquisa da Saúde Mental da Mulher, da Associação Brasileira de Psiquiatria, alerta que uma em cada quatro mulheres diagnosticadas com câncer de mama se torna mais vulnerável a desenvolver quadros de depressão. Por isso, o Outubro Rosa é uma oportunidade crucial para discutir a relação entre o câncer de mama e a saúde mental.
Em entrevista à redação do Jornal do Médio Vale (JMV), a psicóloga Iracy Patricia Tonolli (CRP 12/06740), formada pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB) em 2007 e pós-graduada em Neuropsicologia, com atuação no Centro de Oncologia de Timbó, enfatiza a importância de cuidar da saúde emocional durante o tratamento oncológico. “O Outubro Rosa é um movimento internacional que visa conscientizar sobre o câncer de mama, mas também é fundamental para abordar a saúde mental das pacientes diagnosticadas”, destaca a especialista.
Iracy faz uma pergunta importante: Você sabia que cuidar das emoções durante o tratamento oncológico é uma prioridade? “Receber o diagnóstico de câncer desencadeia uma série de mudanças na vida do paciente, sejam físicas, emocionais ou até mesmo na organização do cotidiano. Assim como o paciente, seus familiares também vivenciam essa nova condição, com mudanças na rotina, incluindo consultas médicas frequentes, tratamentos específicos e muitos exames. Essas alterações podem gerar emoções complexas e desafiadoras, afetando a autoestima e a autoconfiança”, observa a psicóloga.
Apesar dos avanços na medicina, com novos tratamentos e diagnósticos precoces, Iracy ressalta que o diagnóstico de câncer ainda desperta medos, pensamentos antecipatórios e fantasias. “Quando passamos por mudanças abruptas em nossas vidas, precisamos de uma reorganização interna e de acolhimento. O papel da psicologia é proporcionar um espaço de escuta qualificada para lidar com esses aspectos emocionais, uma vez que o cuidado precisa ser integral, abrangendo todas as dimensões do paciente”.
A psicóloga enfatiza a importância de oferecer um espaço seguro e empático, sem julgamentos, onde o paciente possa reconhecer e expressar seus sentimentos e pensamentos. “Esses pensamentos podem, inclusive, interferir na adesão às terapias. Além disso, há tabus e comparações que podem intensificar o sofrimento. Estar atento às necessidades individuais é essencial, pois cada paciente vivencia o tratamento de forma única”.
Iracy também destaca o valor do trabalho interdisciplinar no ambiente oncológico. “Trabalhar em conjunto com a equipe multidisciplinar contribui para a aquisição de bons hábitos e melhora da qualidade de vida e bem-estar. O psicólogo pode facilitar o diálogo intrafamiliar e com a equipe de tratamento, ajudando a reduzir sintomas como ansiedade e estresse. Durante o suporte psicológico, buscamos potencializar recursos de enfrentamento, fortalecer vínculos familiares e comunitários, além de compreender a transitoriedade das situações e compartilhar desafios”.
Para finalizar, a especialista incentiva: “Não hesite em buscar ajuda psicológica para dividir suas angústias, mas também as boas notícias ao longo do processo. Lidar com otimismo, esperança e manter-se ativo no restabelecimento pode gerar impactos positivos nessa caminhada”.