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sábado, 27 de julho de 2024

Projeto Bugio

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Projeto Bugio
Referência mundial no estudo da espécie …

Cleiton Baumann

TATIANA MILANI/JMV
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INDAIAL – Conhecer o comportamento dos macacos bugios, através de experiências práticas e o convívio em seu habitat natural, é um dos objetivos dos integrantes do Projeto Bugio, que mantêm em uma sede o Centro de Indaial, um Centro de Pesquisas Biológicas de Indaial – Cepesbi, além do Observatório de Primatas do Morro Geisler. Através de um convênio firmado entre a Universidade Regional de Blumenau – Furb e a Prefeitura de Indaial, que são responsáveis pela manutenção do projeto, várias pesquisas e descobertas envolvendo os bugios, hoje referências internacionais, trouxeram credibilidade aos pesquisadores, sem falar na troca de experiências que ainda serão vividas por quem estuda esta espécie de primata.
Criado em março de 1992, o Projeto Bugio está hoje sob a coordenação de Zelinda Maria Braga Hirano (Furb) e o médico veterinário Júlio César de Souza Júnior (Prefeitura). Além deles, também trabalham no Centro de Pesquisa de Indaial outros 13 estudantes estagiários dos cursos de Biologia e Medicina Veterinária da Furb, sem falar os estudantes de outros estados brasileiros e até do exterior, que durante os períodos de férias, realizam seus estágios em Indaial. “Estamos trabalhando na formulação de um convênio de intercâmbio com o México, tudo para enriquecer nossa troca de experiências e descobertas sobre estes primatas”, comenta Zelinda Hirano.
Ela destaca a importância deste projeto ao informar que hoje, as pesquisas feitas no Centro de Indaial, são referência internacional no que diz respeito aos bugios, justamente por ser uma espécie típica da Mata Atlântica. “Por isso, pelo nosso reconhecimento internacional na pesquisa desta espécie, é que muitos estrangeiros procuram o projeto a fim de obterem mais informações”, acrescenta. Hoje o projeto atua em uma área de pesquisa com 20 hectares, pertencentes à Prefeitura de Indaial, em uma das faces do conhecido Morro Geisler, no Centro da cidade.
“Fizemos o acompanhamento mensal e anual dos bugios nesta área, sendo que em dezembro de 2009, em nosso último levantamento, contabilizamos 48 bugios vivendo nesta área de pesquisa, além de dois recém-nascidos e outros dois bugios fêmeas grávidos, para nossa alegria”, conta Zelinda.  Ela comenta também que em dezembro de 2009, em Blumenau, aconteceu o 13º Congresso Brasileiro de Primatologia, realizado na Furb, quando o Projeto Bugio participou com 14 trabalhos e palestras ministradas pelos seus coordenadores. 
 

“Preservação ambiental deveria constar dos planos diretores”, dizem  pesquisadores

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Os pesquisadores do Projeto Bugio destacam um ponto importante da atual realidade vivida em muitas cidades da região, quando se trata da questão ambiental. “Acredito que esteja faltando em nossa região uma preocupação maior, por parte dos municípios, em incluir em seus planos diretores, itens que prevejam corredores de áreas verdes para que os bugios, por exemplo, assim como os animais silvestres, possam se deslocar livremente, sem que para isso, invadam áreas urbanas e entrem em conflito com a população, já que isto é um fator muito comum em Indaial”, reforça Júnior.
Ele acredita que o fato de haver muitos bugios na cidade, em contato com as residências e a própria população, já é um sinal de que toda a região vem apresentando um desequilíbrio ecológico e que os bugios estão sofrendo com estas transformações. “Os bugios são animais folívoros (se alimentam de folhas) e frugíveros (se alimentam de frutas), e no Morro Geisler, por exemplo, há tudo o que eles precisam para sobreviver. Mas caso eles procurem alimentação perto das casas, não faça nada com o animal, apenas procure prender cachorros para evitar acidentes, pois eles vão embora sem problemas”, informa.
Júnior explica que é provável que o bugio esteja procurando alimento, e se na propriedade houver árvores frutíferas, é isso que vai buscar, mas em nenhum momento, o cidadão deve alimentar este animal, deixe que ele mesmo busque o seu alimento na floresta. “Nosso maior anseio é que os órgãos de defesa ambientais não permitam que esta área do Morro Geisler seja facilmente depredada pela ação imobiliária e que se intensifique a fiscalização para combater os crimes ambientais em nossa região”, enfatizam.

Pesquisadores buscam apoio para construir nova sede

No próximo ano, o Projeto Bugio completará 20 anos de existência e para isso, os coordenadores estão empenhados em construir uma nova sede, já que a atual está saturada e não apresenta mais condições para crescimento. “Além destes fatores, também há o problema de a atual sede estar situada em plena área urbana, no Centro da cidade, o que gera conflitos comportamentais. Precisamos de um espaço maior e que fique retirado do centro, o que permitiria a ampliação da pesquisa sobre esta espécie”, fala Zelinda.
Ela informa que há um projeto para um novo Centro de Pesquisa sobre Primatas, mas que está em processo de negociação. “Para que ele seja realmente efetivado, estamos pedindo o apoio das empresas da região, a fim de pôr em prática a construção deste novo local, já que em março de 2011 vamos completar 20 anos de atuação e o projeto, por todas as suas conquistas e descobertas, merece este incentivo”, conclui a coordenadora.   
 

Centro realiza pesquisas e cuida de animais feridos

A história do Projeto Bugio iniciou com Zelinda Maria Braga Hirano, então professora universitária, que passeando pelas proximidades do Morro Geisler, começou a estudar o comportamento dos bugios que ali viviam, em grande número. Como percussora, ela adentrou na mata e começou a observar o comportamento desta espécie, contando também com o apoio de outros ambientalistas. Mas diante de um caso de animal intoxicado, mantido em cativeiro ilegal, Zelinda conseguiu conscientizar as autoridades da época de como era necessário iniciar um trabalho de pesquisa sobre estes primatas, e foi o que aconteceu.
O Cepesbi e o Observatório de Primatas do Morro Geisler, desde sua fundação, têm realizado atividades de pesquisa, educação ambiental e integração da comunidade local com estudantes universitários e pesquisadores. Dentre as principais atividades destaca-se o Projeto Bugio, um estudo científico que procura conservar a subespécie Alouatta clamitans Cabrera, 1940 (Primates: Atelidae), o popular “bugio ruivo”. Esta atividade gerou subsídios para manutenção de bugios em cativeiro e viabilizou a implantação de um criadouro científico, oficializado pelo Ibama em 1995, onde os dados científicos coletados a campo são aplicados a fim de incrementar o bem-estar dos animais cativos.
O criadouro já recebeu mais de uma centena de animais e hoje conta com 36 indivíduos, sendo provenientes de apreensões em cativeiros ilegais realizadas pelo Ibama ou pela Polícia Ambiental, ou ainda trazidos pela comunidade local por apresentarem ferimentos. “São animais que foram vítimas de alguma ocorrência como descargas elétricas (eletrocutados), mordida de cães e outros animais, atropelamentos, manutenção ilegal em cativeiros, entre outros”, afirma o veterinário Júlio César de Souza Júnior.
Entre as atividades desenvolvidas no Cepesbi em Indaial, estão estudos de ecologia e comportamento de bugios ruivos em habitat natural; desenvolvimento de técnicas de manejo que permitam a melhoria da qualidade de vida destes animais em cativeiros; manutenção de um banco ex-situ de material biológico para pesquisas científicas; realização de estudos de reintrodução; sensibilização da comunidade regional quanto à importância da conservação desta espécie de primata; capacitação de estudantes e profissionais interessados em desenvolverem estudos na área de primatologia, biologia e medicina da conservação; e influência na adequação de políticas públicas á conservação do bugio ruivo e de seu habitat.

Curiosidades sobre os bugios

Os bugios são primatas neotropicais pertencentes ao gênero Alouatta. Possuem uma das distribuições geográficas mais amplas dentre os primatas das Américas, do Sul do México até ao Norte da Argentina.  São animais com vasta barba sob a face nua de pele negra. Cauda preênsil altamente desenvolvida, empregada na locomoção ou em posturas de alimentação. Ventre e peito com pouca pelagem.
É um dos poucos gêneros que possui dimorfismo sexual, diferença entre machos e fêmeas, notadamente desenvolvido em Alouatta caraya, A. uluata e A. clamitans. Não apresentam estação reprodutiva e vivem aproximadamente 20 anos. Pesam em média 7 kg podendo chegar até 15 kg em Alouatta caraya. Seus membros anteriores e posteriores têm comprimentos idênticos, e apresentam esquizodactilia, uma adaptação na posição dos dedos das mãos que facilitam o deslocamento sobre os troncos das árvores.
Vivem em estratos arbóreos de 10 a 20 metros em florestas montanhosas úmidas ou vegetação mais aberta como caatinga, cerrado, babaçual ou araucária, em altitudes que variam entre 0 a 3200 metros, sem preferência por tipo de vegetação. Formam grupos de até 15 indivíduos ocupando uma área de uso de 1 a 20 ha. São animais folívoros frugívoros, com até 90% da dieta a base de folhas dependendo da época do ano.

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