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sexta-feira, 26 de julho de 2024

Projeto Cobra Viva vai produzir soro veterinário.

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Projeto Cobra Viva vai produzir soro veterinário.
AMBIENTAL: No início, as cobras eram apenas enviadas ao Instituto Butantã. Hoje, há estudos de co …

Thomas Erbacher

LILIANI BENTO/JMV

INDAIAL – Desde seu papel como a criatura que tentou Eva na Bíblia até suas aparições regulares nos livros e filmes de Harry Potter, as cobras ou serpentes têm serpenteado pelo mundo da mitologia e cultura popular em lendas originadas do medo e da fascinação. Em mais de 130 milhões de anos sobre a face da Terra, as cobras se desenvolveram como vertebrados altamente versáteis, esnobando sua habilidade de escalar verticalmente, arremessar-se na água e em algumas espécies até voar – e tudo sem a presença de membros. Para estudar esse ser que causa adoração e ódio ao mesmo tempo, Indaial é uma das poucas cidades catarinenses que possuem um laboratório específico, chamado Projeto Cobra Viva.

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O responsável pelo projeto e estudante de Biologia, Alexsandro Moser de Oliveira é um profundo conhecedor das espécies de serpente existentes. Trabalha no projeto praticamente desde que teve início, há 13 anos. No início, o Projeto Cobra Viva tinha por objetivo salvar vidas humanas ao capturar as cobras e encaminhá-las ao Instituto Butantã, que produz o soro antiofídico. Porém, com o tempo percebeu-se que muita coisa poderia ser feita aqui. Todos os hospitais do Brasil possuem os soros produzidos no instituto.

Tanto que o laboratório, que está sendo reformado, em breve, estará produzindo o soro da Coral para uso veterinário. Hoje, quando um animal é mordido por essa cobra morre, pois, ainda não existe um inibidor para o potente veneno da Coral. O soro humano não serve para uso em animais. Oliveira explica que essa é uma novidade que vai ajudar muito os criadores de bovinos e cachorros para comercialização. ?Já tivemos caso de pessoas que perderam vacas premiadas?, conta.

Além disto, atualmente, o Projeto Cobra Viva, que funciona em parceria com a Universidade do Contestado (UNC), de Chapecó. O trabalho em Indaial hoje consiste em fazer a triagem das cobras, desverminar e deixar de quarentena. Depois disto, elas são enviadas ao laboratório de Caçador, onde é retirado o veneno delas e enviado ao Butantã.

Em Indaial, também estão sendo feitos alguns estudos de comportamento, visto que algumas espécies estão em cativeiro na sede do Projeto Cobra Viva. Oliveira diz que o Projeto Cobra Viva está recebendo novas espécies com o objetivo de se tornar um observatório de serpentes, aracnídeos entre outros répteis.

Mesmo ainda com poucos exemplares, o Projeto Cobra Viva já foi visitado, somente este ano, por quase 6 mil alunos da região. Nessas visitas, além da observação das serpentes, os alunos também assistem a uma palestra sobre a importância das cobras para o ecossistema, suas várias espécies e formas de proteção. Em exposições, palestras e festas do município o projeto já foi visto por mais de 10 mil pessoas.

Casa de Répteis já conta com uma Naja

Quando o Projeto Cobra Viva se transformar em uma Casa de Répteis terá exemplares das mais diversas serpentes, aranhas, iguanas, entre outros. Mesmo sem estar construído o novo cativeiro, Oliveira conta que, este mês, eles receberam uma Naja, cobra originária da Índia e considerada uma das mais venenosas do mundo. Ela será uma das estrelas do novo projeto.

Porém, não será tão agressiva como quando está no seu habitat natural, porque já nasceu em cativeiro e acaba sendo mais cordata. Esse é um motivo porque o Projeto Cobra Viva estuda o comportamento delas quando em cativeiro, para diagnosticar o que muda nelas. Entre estas mudanças já estão constatadas a de temperamento e também os hábitos alimentares.

Os filhotes de corais, por exemplo, são alimentados com carne de boi ou de camundongo, mas transformados pelas mãos hábeis dos biólogos em tubetes que se parecem com uma cobra. ?Se não for assim, eles não comem?, diz.

Em Indaial há um criadouro de Coral

O projeto de produzir soro da Coral para uso veterinário tem por objetivo, além da inovação, também buscar recursos para serem investidos no Projeto Cobra Viva. Atualmente, o projeto sobrevive com recursos da Prefeitura de Indaial, da Universidade do Contestado, Fapesc e com doações de empresas.

O particular interesse pela Coral é porque serpentes dessa espécie são muito encontradas no Estado, principalmente, na região e, por serem das mais venenosas, há sempre demanda pelo soro desta serpente. Oliveira conta que cerca de 60% das corais que são enviadas ao Butantã são oriundas de Santa Catarina. Venenoso dela é tão poderoso que, segundo Oliveira, dez delas são o suficiente para produzir soro para atender todo o Brasil. Uma pessoa saudável mordida pela Coral leva entre uma hora e uma hora e meia para morrer envenenada.

Em Indaial é mantido também um criadouro da Coral com o objetivo de aumentar a produção de soro desta espécie. De acordo com Oliveira, esta cobra é bastante sensível a mudanças e por isso não se adapta a qualquer lugar. ?Este tipo de cobra ainda não está em extinção, mas nos últimos seis anos houve uma redução no número dessa serpente?, diz.

A Coral é uma das cobras mais estudadas na Europa e no Brasil. O veneno dela, além de soro, também é utilizado na pesquisa de medicamentos. O veneno da Jararaca, por exemplo, já tem sido utilizado em medicamentos para controle da pressão e estudos comprovam que ele é 60% mais forte que a morfina e não causa dependência.. O da Cascavel é utilizado na produção da cola de fibrina que é utilizada na sutura de pontos em cirurgias, como adesivo cirúrgico.

Existem 26 espécies de Coral no mundo. Na região encontra-se a da espécie Micrurus corallinus, considerada a de verdade, ou seja, a mais venenosa entre todas. Por mais que algumas pessoas não percebam o papel da cobra na natureza, o estudante de Biologia explica que cada animal tem uma função a desenvolver. A Coral, por exemplo, come outras espécies de serpentes que poderiam se reproduzir de forma desordenada se não houvesse o equilíbrio da natureza.

Curiosidades sobre as serpentes:

Existem 2.700 espécies conhecidas de cobras e todos esses répteis compartilham das mesmas características: têm corpos finos, lineares e sem membros; são carnívoros; têm sangue frio (são ectotérmicos), o que significa que sua temperatura interna varia com a temperatura do ambiente.

Embora as cobras não tenham orelhas, as ondas de som provenientes do ar atingem sua pele e são transferidas dos músculos para o osso. Quando o som atinge o osso do ouvido sob o crânio, envia vibrações para o ouvido interno, sendo o som processado pelo cérebro.

As cobras não vêem cores, mas seus olhos têm uma combinação de receptores luminosos: bastonetes que provêm uma visão fraca, porém, indistinta de luz e cones que produzem imagens claras. As cobras que vivem em locais subterrâneos têm olhos menores que processam somente claro e escuro. As que vivem acima do solo e usam a visão para caçar enxergam muito bem.

Como os humanos, as cobras inspiram os odores que há no ar para dentro das aberturas nasais e os levam para uma câmara olfatória onde é feito o processamento; ainda assim, as cobras têm um sistema secundário. Quando uma cobra vibra sua língua, ela está juntando partículas de odor, que são transferidas para duas bolsas cheias de fluido no céu da boca e depois para uma segunda câmara olfatória menor. A língua é usada apenas para ajudar nesse processo, pois, elas não têm o sentido do paladar.

Embora as várias espécies de cobras tenham métodos diferentes de encontrar e pegar a presa, todas comem basicamente do mesmo modo. Suas mandíbulas incrivelmente expansíveis possibilitam-lhes capturar animais de tamanho muito maior e engoli-los inteiros.

Mesmo que não pareça, as cobras têm sexo. Quando uma cobra fêmea está pronta para copular, ela começa a liberar um perfume especial (feromônio) das glândulas da pele que têm nas costas. Quando sai para sua rotina diária, ela deixa um rastro de odor à medida que se impulsiona sobre os pontos de resistência do solo. Se um macho sexualmente maduro capta seu perfume, ele segue seu rastro até encontrá-la. A cobra macho começa a cortejar a fêmea, batendo com seu queixo na parte de trás da cabeça da fêmea, e rastejando sobre ela. Quando ela está desejosa, levanta a cauda. Nesse ponto, ele enrola sua cauda em torno da cauda dela para que a base de suas caudas se encontrem na cloaca (o ponto de saída para excreções e fluido reprodutivo). O macho insere seus dois órgãos sexuais, os hemipênis, que então se estendem e liberam esperma. O sexo das cobras geralmente dura uma hora, mas pode durar até um dia inteiro.

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