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sexta-feira, 26 de julho de 2024

Desvendando os riscos digitais

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Análise sobre o aumento de suicídios e autolesões entre jovens e adolescentes

“Na primeira quinzena de março deste ano, a revista Veja Saúde destacou um alarmante aumento nos casos de suicídio e autolesão no Brasil, especialmente entre jovens e adolescentes. A matéria revelou que, de 2011 a 2022, a taxa de suicídio entre jovens aumentou cerca de 6% ao ano, enquanto os registros de autolesão entre crianças e jovens de 10 a 24 anos cresceram 29% anualmente”. As colocações são do Especialista em Investigações de Crimes de Informática, Professor da Academia de Polícia Civil de Santa Catarina, Lotado na Delegacia de Repressão a Crimes de Informática – DEIC, Elias Edenis de Oliveira.

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O profissional elaborou um artigo que foi compartilhado com a redação do Jornal do Médio Vale (JMV) onde analisa a seguinte questão: Por que os casos de suicídio e autolesão têm aumentado entre jovens e adolescentes?

Primeiramente o profissional apresenta os dados que são originários do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informações Hospitalares (SIH) e Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), podem subestimar o problema real, dada a tendência de subnotificação em estatísticas oficiais. “Fatores como bullying, cyberbullying, abuso físico ou sexual, conflitos familiares, transtornos mentais, consumo excessivo de álcool ou drogas, vulnerabilidade social, e dificuldades em lidar com o próprio corpo ou sexualidade foram reconhecidos pelo estudo como potenciais catalisadores dessas ações autolesivas”, descreve Oliveira.

Segundo o especialista em Investigações de Crimes de Informática,  “a crescente imersão tecnológica e a predominância das interações sociais online exacerbam esses fatores, alterando significativamente a experiência da adolescência e juventude. A dinâmica dos relacionamentos digitais, onde não existem barreiras espaciais e os jovens tendem a se agrupar com base em identidades comuns, frequentemente influenciadas pelos algoritmos das redes sociais, pode intensificar a vulnerabilidade dos jovens”.

Oliveira relata ainda que “sobre as redes sociais, destacam-se notícias recentes sobre pais que, após a dolorosa perda de seus filhos que eram consumidores frequentes de conteúdos de viés depressivo em redes sociais e que infelizmente cometeram suicídio, estão processando as empresas responsáveis por essas plataformas. Neste ambiente, os laços sociais frequentemente são frágeis, e o bullying virtual pode impedir o acesso à validação social necessária, exacerbando o isolamento e a angústia emocional”.

O profissional enfatiza que “infelizmente, podemos ver isso de perto na Delegacia de Repressão a Crimes de informática, onde aportam casos e mais casos envolvendo o induzimento e instigação à autolesão e suicídio. A investigação desse tipo de crimes revela uma intricada rede de interações onde jovens, muitas vezes vítimas e autores de induzimento ao suicídio ou autolesão, expressam suas angústias de maneiras que muitas vezes permanecem ocultas no mundo físico”.

Oliveira observa que “essas apurações, que analisam toda a vida digital tanto das vítimas quanto dos autores, desvendam aspectos da personalidade e do sofrimento desses indivíduos desconhecidos por seus familiares e amigos, destacando a importância de uma vigilância cuidadosa por parte dos pais e responsáveis. Se tornou moda entre alguns adolescentes enviarem “plaquinhas” para amigos e namorados virtuais, em que escrevem os apelidos dos outros no corpo. E muitas vezes essas inscrições são feitas com cortes. Além da tendência de violência autoprovocada, é importante chamar atenção para o sadismo daqueles que solicitam, induzindo ou instigando, essa prática”.

O especialista ressalta que “entre estes autores, é comum a apreciação de imagens e vídeos gore, que se refere a conteúdos com violência extrema e gratuita, num nível de sadismo assustador, que se manifesta em subculturas nas subcomunidades que surgem dentros de redes sociais como Instagram, TikTok, Discord e Twitter”.

Oliveira explica que “como exemplo de manifestação dessa subcultura cito um clipe musical que encontrei enquanto redigia este artigo, disponível publicamente em um perfil no site do Capcut, um aplicativo de edição de vídeo. Este clipe, provavelmente editado para divulgação em redes sociais, dado o seu formato para telas de celulares, toca uma música com a seguinte letra: “Tá batendo meia noite, ein! Eu vou pro Discord – Eu i a rapaziada invade postando gore. Servidor tá palmeado. Moderação tá dormindo. Chat geral tá travado. Porque o bonde passa rindo”. Conteúdos gore são vídeos de mutilação, homicídios, necrofilia, etc. Manifestações as mais diversas da degeneração de um movimento artístico que já era sombrio”.

O especialista afirma ainda que “se profissionais como jornalistas e policiais, em contato frequente com este tipo de material, podem ter sua saúde mental afetada, quanto mais crianças e adolescentes. Quando a letra fala de moderação, trata-se também da vigilância dos pais. Logo, o maior volume de interação nas subcomunidades é durante a madrugada. E vemos isso nas análises dos dispositivos de investigados e vítimas. Por isso é fundamental que os pais monitorem de perto o comportamento online de seus filhos, controlando o uso de redes sociais, incentivando interações presenciais e estando atentos a sinais de sofrimento psíquico e também de sadismo”.

Para Oliveira “a educação sobre os perigos dos relacionamentos virtuais, especialmente aqueles de natureza abusiva, também é essencial para prevenir a exposição a influências prejudiciais online. Recomendo que pais e educadores redobrem a atenção e adotem medidas de controle parental digital para proteger os jovens desse crescente fenômeno de violência autoprovocada, ajudando-os a construir uma resiliência contra os riscos do ambiente virtual”.

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